Pablo Marçal mente e é desmascarado por matéria da Folha de São Paulo; entenda

By 28 de agosto de 2024Brasil, Justiça, Vá se tratar

Desde o início da campanha eleitoral, o candidato a prefeito de São Paulo pelo PRTB, Pablo Marçal, vem acusando de forma insistente o candidato Guilherme Boulos, do Psol, de ser usuário de cocaína sem apresentar nenhuma prova sequer. Reiteradas vezes em debates e em publicações nas redes sociais, o autodenominado ex-coach se referiu à Boulos como “aspirador de pó” e fez gestos no nariz antes de se dirigir a ele. Boulos sempre negou a acusação e foi à Justiça contra o adversário.

 

De acordo com uma matéria da Folha de São Paulo, publicada nesta quarta-feira (28), tudo indica que o “dossiê” de Marçal contra Boulos é, na verdade, referente à outra pessoa, um homônimo. E para deixar tudo ainda mais sujo, o tal homônimo é candidato a vereador pela coligação que Marçal representa.

A reportagem da Folha obteve a certidão do caso, que ocorreu em 2001, e verificou que quem figura como réu neste processo sobre drogas nas mãos de Marçal não é Guilherme Castro Boulos, candidato à prefeitura, e sim Guilherme Bardauil Boulos, um empresário que hoje, coincidentemente, disputa uma vaga na Câmara Municipal de São Paulo pelo Solidariedade.

A Folha procurou a assessoria de imprensa de Marçal para esclarecer se as acusações do candidato têm como base apenas o processo do homônimo, mas não obteve resposta. A assessoria também não compartilhou o número do suposto processo que fundamentaria as acusações do influenciador contra o adversário.

 

Guilherme Bardauil Boulos, réu no processo por posse de drogas, disse à reportagem da Folha que o caso envolveu maconha, e não cocaína.

“Houve esse incidente quando eu tinha 21 anos e foi um ato imprudente que ocorreu na minha juventude na época de faculdade. Mas isso é coisa do passado, que aconteceu há 23 anos”, escreveu ele por mensagem.

“Hoje eu tenho uma família, dois filhos, uma empresa de transporte executivo em que me orgulho muito e sou candidato a vereador pelo Solidariedade para contribuir com uma São Paulo melhor para os cidadãos.”

Em sabatina da CNN na tarde da última segunda-feira (26), Marçal voltou a se referir a Boulos como “cheirador de cocaína”, disse que tem a prova e que mostrará no último debate. “Vou provar, ninguém vai me segurar. Já foi preso portando droga, e eu vou mostrar. Está no segredo de Justiça, aguarde que eu tô resolvendo para te mostrar.” O processo em que Bardauil Boulos figura como réu está em segredo de Justiça e foi tipificado como posse de drogas para consumo pessoal.

O Ministério Público ofereceu a denúncia naquele ano, mas o processo foi extinto em 2006, com base no artigo 89 da lei 9.099/95.
O artigo prevê que, nos crimes em que a pena mínima for igual ou inferior a um ano, a Promotoria, ao oferecer a denúncia, pode propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime. Passado esse período sem revogação, o juiz extingue a punibilidade. Na certidão do processo consta o nome completo de Bardauil Boulos, o número de seu documento, data de nascimento e nome dos pais.

Marçal levantou a acusação pela primeira vez no início de agosto, na convenção que oficializou sua candidatura. Na ocasião ele disse que dois de seus adversários eram usuários de drogas, mas que só tinha provas a respeito de um. O influenciador afirmou ainda que tinha o registro de uma internação, mas nunca apresentou o documento, assim como não mostrou o processo no qual acusa Boulos de ser réu.

O Tribunal Regional Eleitoral concedeu ao Boulos candidato, o direito de resposta nas redes sociais de Marçal diante da acusação sem provas de uso de drogas. A Justiça entendeu que “as imputações extrapolam os limites da liberdade de expressão e do debate político e configuram unicamente ofensas à honra”.

 

Ora, ora, ora, quem poderia imaginar?
da redação, com informações da Folha de São Paulo

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