Descrito pela psicóloga argentina Sonia Vaccaro em 2012, o conceito serve para tipificar mais uma forma de violência de gênero
O que é violência vicária
De acordo com a psicóloga e escritora Sonia Vaccaro, que cunhou o termo em 2012, vicário quer dizer “ocupar o lugar de outra pessoa/coisa ou substituí-la”. Por isso, denominou violência vicária a violência contra a mulher por meio da agressão a terceiros – na maior parte dos casos, os filhos.
“O conceito pode se referir também a pessoas ou coisas, incluindo animais que servem de companhia e são importantes para a mulher. O agressor, o homem violento, quando não tem acesso à mulher, porque se separaram, pode agredi-la por meio de pessoas significativas. Se tem acesso aos filhos, tende a a maltratá-los, porque sabe que é o que há de mais sensível e valioso para ela”, justifica.
Entenda origem do termo
Vaccaro cunhou o termo ao pesquisar histórias de mulheres que, após terminarem relacionamentos, continuaram sendo vítimas de violência por meio de agressões aos filhos. Segundo a pesquisadora, muitas relataram que os agressores ameaçaram tirar a guarda das crianças, antes de sequestrar ou matar os filhos.
Violência de gênero não termina na mulher
“Mesmo o homem considerado perigoso para a mulher, afastado judicialmente por medidas protetivas, continua convivendo com os filhos, como se não fosse perigoso para eles também”, destaca Vaccaro.
“A violência vicária mostra que o homem violento não deixa de sê-lo quando está com os filhos, e nem após a separação, porque encontra, por meio de qualquer pessoa – e até mesmo de animais de estimação -, uma forma de afetá-las”, afirma. Na Espanha, a lei de proteção animal inclui a violência vicária, já que, para atingir a mulher, homens violentos chegam a assassinar seus bichos de estimação.
Repercussão do conceito
O conceito ganhou notoriedade em países como Espanha e México em 2020, após o caso de uma cantora, vítima de violência doméstica, que expôs como seus filhos foram utilizados pelo agressor para atingir a ela. “O pai usou a rebeldia da adolescência dos filhos para distanciá-los da mãe”, explica Vaccaro.
Como combater a violência vicária no Brasil
“Essa violência teria que ser enquadrada na Lei Maria da Penha, no Brasil. Aqui na Espanha, ela foi incorporada à lei de violência contra a mulher, de 2004”, conta. “Tem muitos grupos no Brasil interessados em fazer isso e pressionar para que os legisladores se deem conta desse novo tipo de violência.”
Como identificar a violência vicária
Sinais importantes para identificar a violência vicária são:
• ameaça de retirar a guarda dos filhos;
• ameaçar não pagar a pensão, sob a alegação de que o dinheiro vai para a mulher, e não para as crianças;
Relação de violência vicária com Lei de Alienação Parental
Questionada sobre a relação entre a Lei de Alienação Parental (LAP) e a violência vicária, Vaccaro explica: “A invenção da LAP foi – e é – uma forma de seguir acusando a mulher e fazer danos a ela ao alegar que ela aliena os filhos do pai. Mas, são duas coisas distintas. O invento da LAP foi para causar danos à mulher e é uma forma de feri-la por meio das instituições, nas quais também há muitos homens violentos. Já a violência vicária é uma violência de gênero na qual utiliza-se uma terceira pessoa (normalmente o filho) para seguir agredindo a vítima”.
Saiba mais sobre Alienação Parental:
com informações da revista Marie Claire