De Bolsonaro à Trump, chegando à Marçal, as mulheres são a maior resistência ao crescimento dessas figuras que atualmente representam com maior expressividade a extrema-direita. Essa é a conclusão da pesquisadora antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, que é professora titular da Universidade de Dublin (UCD) e diretora do Digital Economy and Extreme Politics Lab (DeepLab).
Para entendermos este fenômeno, é preciso olhar para o contexto social das últimas eleições presidenciais no Brasil e nos Estados Unidos. De acordo com as pesquisas, Bolsonaro teve maior rejeição entre o público feminino, especialmente entre as mulheres negras, nas duas eleições presidenciais que concorreu (2018 e 2022). Atualmente, os olhos do Brasil se voltam para a sua maior cidade, que tem Pablo Marçal como candidato a prefeito e é majoritariamente rejeitado por eleitoras mulheres, chegando a 53% de rejeição entre elas, segundo a última pesquisa do Datafolha.
Nos Estados Unidos o fenômeno é observado desde 2016. Segundo o The New York Times, “mulheres de 18 a 29 anos se tornaram significativamente mais liberais do que a geração anterior de mulheres jovens. Hoje, cerca de 40% se identificam como liberais, em comparação com apenas 19% que dizem ser conservadoras”. Nas eleições de 2020, as mulheres, que representaram 53% dos eleitores daquele país, votaram majoritariamente em Joe Biden, dando-lhe a vitória sobre Donald Trump. (Atenção: Trump é extrema-direita, mas Biden não é de esquerda. EUA é outro contexto)
Estes dados mostram a força do feminismo, mesmo quando ele não é totalmente compreendido, mas vivenciado no dia-a-dia. Para Rosana Pinheiro-Machado, seja através de conhecimento intelectual ou vivência, as mulheres rejeitam cada vez mais os discursos masculinistas, violentos e que apontam a famigerada “submissão feminina”.
“O feminismo é a maior força política do século 21, tanto em termos de capilaridade quanto em termos de poder de influência, se contrapondo à expansão da extrema direita no mundo. Existe uma tendência à clivagem de gênero na chamada ‘polarização’. Mulheres, historicamente silenciadas, assediadas e assassinadas, buscam autonomia — e elas não voltarão atrás. Enquanto isso, o patriarcado tenta se manter como força hegemônica. Em certo desespero, busca cada vez mais no fundamentalismo religioso e político a violência necessária para manter o poder”, afirma a antropóloga.
Diante dos dados, fica o recado: é preciso manter a vigilância e a força, cada vez mais necessárias, contra uma vertente política que reitera a desigualdade de gênero e coloca as mulheres em situação de vulnerabilidade política e social. A extrema-direita precisa ser combatida com o avanço de políticas públicas que garantam sobrevivência e resistência para as mulheres, pessoas negras, povos originários, pessoas LGBTQIA+ e demais grupos historicamente violentados, além de informação, formação e reforço do recado que estamos repetindo incansavelmente: o machismo mata, a extrema-direita mata e ambos são danosos para TODA sociedade.
Leia aqui o artigo de opinião de Rosana Pinheiro-Machado
Marcia Marques