Nota de Repúdio contra a Violência Política de Gênero em Cajazeiras e Região
A Marcha Mundial das Mulheres – Núcleo Fátima Cartaxo, de Cajazeiras – Paraíba, vem se manifestar a respeito dos casos de violência política de gênero ocorridas nas cidades de Cajazeiras e Uiraúna, durante a campanha eleitoral 2024. Nós da Marcha Mundial das Mulheres, enquanto movimento feminista, afirmamos que nenhuma forma de violência contra as mulheres deve ser tolerada em qualquer espaço. Em uma sociedade marcada pelo machismo, racismo e misoginia, expressamos nossa solidariedade à cidadã Célia Cartaxo, à candidata a prefeita de Cajazeiras Corrinha Delfino, à candidata a vice-prefeita de Uiraúna Cláudia Freitas e às demais mulheres que enfrentam diariamente a violência política, entre outras formas de violência de gênero, em seus territórios.
No dia 25 de agosto de 2024, conforme relatado no blog Folha Vip de Cajazeiras, o prefeito municipal de Cajazeiras entrou, sem permissão, na casa de uma idosa, para confrontar sua filha, Célia Cartaxo, devido à escolha política dessa cidadã. De acordo com esse relato, pode-se considerar que o gestor praticou violência verbal contra a ex-aliada, em sua residência, por esta declarar apoio político a outra candidatura. Nós, mulheres, somos livres para votar e escolher quem irá nos representar coletivamente nas câmaras e prefeituras, o acesso a bens e serviços públicos é um direito constitucional e não pode ser condicionado à posição política do indivíduo.
No dia 12 de setembro de 2024, em vídeo numa rede social, um candidato a vereador fez um pronunciamento machista sobre a candidata a prefeita, Corrinha Delfino, ancorado em estereótipos de gênero e da sociedade patriarcal que limitam o lugar da mulher ao ambiente doméstico, negando sua capacidade de atuação na esfera pública e em espaços decisórios. Foram muitos anos de luta para mulheres conquistarem o direito de trabalhar fora, o direito de votar e ser votadas, o direito à cidade. Por isso, repudiamos qualquer discurso que questione a legitimidade de uma mulher que se propõe à disputa política eleitoral.
Em Cajazeiras, no dia 30 de setembro, durante o debate na emissora de rádio Arapuã FM, a candidata a prefeita Corrinha Delfino foi, mais uma vez, vítima de violência política de gênero, na ocasião, praticada pelo seu opositor na disputa pela prefeitura de Cajazeiras. O candidato fez uso do gaslighting político, que pode ser traduzido para o português como “manipulação”, é uma tática que promove a violência psicológica. Houve tentativas de interrupção da fala da candidata, uso de deboche, ataque à moral da candidata com termos como “descarada” e “mentirosa”, taxação da candidata como uma “pessoa com desequilíbrio emocional”, entre outras expressões estereotipadas de gênero construídas ao longo da história para inferiorizar a mulher e questionar sua capacidade e inteligência. O comportamento do candidato durante o debate foi machista e desrespeitoso com a mulher candidata à sua frente.
No dia 13 de setembro de 2024, circulou em rede social um vídeo da candidata a vice prefeita de Uiraúna, Cláudia Freitas, denunciando um violento ataque cometido contra ela. A Lei de Violência Política de Gênero (Lei 14.192/2021) foi criada para proteger as mulheres brasileiras no âmbito político. O Brasil é quinto país que mais mata mulheres no mundo, garantir o direito da mulher de disputar espaços de poder e representação como prefeituras e câmaras é fundamental no enfretamento à desigualdade de gênero e violência. A agressão física e psicológica sofrida por Cláudia mostra como o cenário político no sertão da Paraíba é perigoso para a vida das mulheres que ousam falar e escolhem disputar o poder político. A vida acontece na cidade e precisamos garantir cidades livres de violência contra as mulheres.
Segundo dados do Instituto Alziras, que monitora as denúncias da Lei 14.192/2021, 92% dos acusados nas ações penais de violência política de gênero são homens. Embora a formalização de denúncias ainda esteja longe do número real de casos, é perceptível como as mulheres que se colocam à disputa eleitoral sofrem diversas violências. Alguns exemplos dessas violências são: interromper a fala de uma candidata em ambientes políticos, reprodução de estereótipos de gênero, inclusive como forma de desqualificar a candidata ou a sua função, ameaças e difamação da candidata.
As diversas tentativas de inferiorização da mulher por ser mulher configuram violência política de gênero. Repudiamos essa ação e nos solidarizamos com as vítimas. A violência política de gênero é uma realidade em Cajazeiras, Uiraúna e muitos outros municípios brasileiros. É papel da sociedade denunciar e coibir esse tipo de prática.
A violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer! Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!
Marcha Mundial das Mulheres, Núcleo Fátima Cartaxo, 03 de outubro de 2024.