A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, contou detalhes dos episódios de importunação sexual que relata ter sofrido do ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.
Em entrevista à revista Veja, Anielle disse que os episódios da suposta importunação começaram em 2022, ainda no período de transição de governo. A ministra explicou que houve “atitudes inconvenientes” por parte de Almeida, como toques inapropriados e convites impertinentes, mas que ela não reportou os episódios por “medo do descrédito e dos julgamentos”, além da sensação de que a culpa era da vítima, não do agressor.
Comportamento inapropriado de Almeida evoluiu até chegar a importunação sexual, afirma a ministra. “Por um tempo, quis acreditar que estava enganada, que não era real, até entender e cair a ficha sobre o que estava acontecendo. Fiquei sem dormir várias noites”, declarou.
Anielle conta que chegou a ficar “paralisada” diante da violência sofrida e que se culpou por não ter reagido. “Me lembrava de todas as mulheres que já tinha acolhido em situação de violência. Mas o fato é que não estamos preparadas o suficiente para enfrentar uma situação assim nem quando é com a gente. Eu me senti vulnerável”.
A ministra afirmou que “só queria que aquilo parasse de acontecer” e que não quer ter sua vida definida por esse episódio. “Ninguém se sente à vontade ficando em silêncio em uma situação assim. Mas eu não queria a minha vida exposta e atravessada mais uma vez pela violência. Sou muito mais do que isso e me orgulho da minha trajetória”.
“É importante deixar claro que o que houve foi um crime de importunação sexual. Fui vítima de importunação sexual. Precisamos reforçar isso para evitar que mulheres continuem sendo vítimas desse tipo de agressão. Não podemos normalizar uma situação como essa, independentemente de quem a pratique”, disse Anielle.
Anielle Franco depôs por cerca de uma hora e meia na quarta-feira (2), na sede da Polícia Federal, em Brasília, sobre as denúncias contra Almeida. A PF investiga o caso contra o ex-ministro, que também teria assediado outras mulheres.
O caso também é investigado pela Ministério Público do Trabalho em Brasília e pela Comissão de Ética Pública da Presidência. A ONG Me Too Brasil tornou públicas as acusações, feitas de forma anônima, após reportagem do site Metrópoles, que já citava a ministra Anielle como uma das vítimas.
com informações da Folha de São Paulo