Um mea culpa e uma dúvida: por que insistimos em nos envolver com quem não presta?
Ullisses Cambpel, autor da coluna True Crime, na Folha de São Paulo, publicou nesta quinta-feira, 06/11, uma entrevista com Andressa Rodrigues, ex-mulher de Daniel Cravinhos, condenado a 39 anos de prisão pela morte do casal von Richthofen e que hoje cumpre a pena em regime semi-aberto.
Daniel, hoje com 43 anos, acaba de ter o primeiro filho, fruto do relacionamento de cerca de três anos com a estudante, de 28. A entrevista da Folha, que você pode ler aqui, na íntegra, traz os detalhes desse término. Aqui destaco alguns trechos:
- De acordo com Andressa, ela foi abandonada logo depois do nascimento do filho do casal. “Os pontos do parto nem haviam sido retirados”;
- Antes de Andressa, Daniel foi casado com uma biomédica, de 40 anos;
- Daniel confirmou que iniciou um namoro com outra biomédica, de 26 anos;
Andressa tenta justificar ter se envolvido amorosamente com um assassino confesso: “Eu levei um susto. Mas já estava cega e apaixonada. Ele é um homem carinhoso, encantador e muito bom de cama.”
Questionada se o aceitaria de volta, ela é enfática: “Eu o aceito, pois ainda amo esse traste.”
Francisco de Assis, o ”Maníaco do Parque”, ainda recebe, dentro da prisão, cartas de mulheres que se dizem apaixonadas por ele.
Nesses dois casos específicos, estamos falando de assassinos confessos. Francisco de Assis apresenta sinais de psicopatia e sociopatia, e apesar de sua pena terminar em 2028, é pouco provável que ele saia em liberdade. Já Daniel Cravinho, não. É um homicida comum, que cumpriu sua pena com a justiça e, concordando ou não com a atual legislação brasileira, o fato concreto é que ele possui o direito legal de reconstruir a vida.
Mas esse texto não é sobre criminosos confessos. É sobre o homem comum, cujo o único crime conhecido é ser um boy lixo, e para ser justa, esse delito ainda não está incluído no Código Penal. E se estivesse, faria a mínima diferença?
Aqui me incluo no rol das mulheres que acreditaram na regeneração de um boy lixo e por consequência, foram feitas de trouxa. Mais de uma vez, e em estágios diferentes de desenvolvimento intelectual e cognitivo. Me perdoem os que torcem o nariz para as pautas idenditárias, mas a culpa disso tudo é do patriarcado, que alimentou séculos de civilização com a ideia ridícula e absurda que todas nós precisamos de um homem, que só é possível viver plenamente dentro de um modelo de relacionamento extremamente desigual, e que nenhuma conquista, seja ela qual for, terá o mínimo valor se você não tiver um macho para chamar de seu, que, de “seu, não tem nada.
Ah, vale deixar destacado que não sou contra o casamento, nem contra a monogamia, nem contra o modelo de família tradicional. Se ainda não ficou claro, lá vai: o que me incomoda absurdamente é o fato de ver mulheres com um potencial gigantesco perderem o brilho para manter um relacionamento com um monte de estrume. Também vale salientar que toda essa conversa está um nível abaixo do relacionamento abusivo/violento.
Fazendo um paralelo bem rasteiro e sem qualquer embasamento científico, é bem possível que os motivos que levam uma mulher a se apaixonar por um assassino ou por estuprador e serial killer, sejam quase os mesmos que nos fazem manter um relacionamento com um boy lixo: carência extrema e aquela falsa impressão incutida de que nós somos seres supremos imbuídas de super poderes capazes de transformar o caráter e a alma até do pior ser humano.
E não, não somos não.
Taty Valéria, que também já caiu nesse golpe.