Caso Klein, fundador das Casas Bahia: como um estuprador de meninas foi protegido pelo poder da publicidade

Samuel Klein, fundador da Casas Bahia, viveu e morreu sem ser incomodado. Conhecido como “o rei do varejo”, Klein teria usado seu poder como empresário bem-sucedido para manter, durante décadas, um esquema de aliciamento de crianças e adolescentes para a prática de exploração sexual dentro da sede da empresa. Através de presentes e pequenas quantias em dinheiro, o velho Klein abusava de meninas e adolescentes, uma delas, com 9 anos de idade.

Quanto mais jovem, melhor. Virgens eram sua preferência.

Casos de homens rico e poderosos que aliciam e estupram meninas podem não ser uma grande surpresa. Justamente pelo poder que possuem, esses homens conseguem passar incólumes pelo crivo da justiça e da imprensa. O médico pediatra Fernando Cunha Lima, aqui em João Pessoa, foi indiciado por abuso sexual infantil contra 6 pacientes, crianças pequenas. Quando o primeiro caso se tornou público, uma sobrinha declarou ter sido vítima, quando ainda era criança. Mas há uma diferença crucial entre esses homens: ao contrário de Fernando Cunha Lima, que foi e continua sendo exposto pela mídia, Samuel Klein foi protegido pelos veículos de comunicação com maior alcance do país.

Em um podcast de 4 episódios, a Agência Pública de Jornalismo Investigativo, conta essa história em “Caso K – A História Oculta do Fundador da Casas Bahia”. Fruto de uma investigação exclusiva sobre Samuel Klein, realizada nos últimos 4 anos, os repórteres expõe não só os crimes, mas expõe as editorias de grandes jornais, portais e TV’s que decidiram não publicar a história para não atrapalhar as finanças, já que grande parte da verba de anúncio dessas empresas, vinham das Casas Bahia.

Enquanto ouvinte, me senti enganada e envergonhada. Para um leigo nessa área, a relação de poder político e econômico com o que é veiculado na mídia é algo um pouco distante de alcançar. Enquanto jornalista, só conseguia pensar que, apesar de grotesco e revoltante, não era nenhuma novidade. Nós que somos do meio sabemos exatamente como o poder político e econômico pode determinar a linha editorial de qualquer veículo de comunicação: na mentira, na omissão, nas mensagens implícitas e naquilo que “pode ser interpretado de uma forma errada”. Já passei por isso algumas vezes e já me orientaram a mudar manchetes e tirar matérias do ar. Cedi duas ou três vezes, e me arrependo de ter feito isso.

O “Caso K – A História Oculta do Fundador da Casas Bahia”, fala sobre estupros, abusos, cárcere privado e sobre mulheres que tentam reconstruir a própria identidade. São relatos dolorosos. Desses que te deixam com um sentimento de náusea, mesmo para quem já trabalha com esses temas há tanto tempo. Mas sendo bem honesta, o que me deixou mais reflexiva foi o silenciamento da mídia. Eles sabiam, eles tinham repórteres dispostos a cobrir a história, eles tinham provas, depoimentos. Mas eles tinham um banner, tinham uma publicidade paga, tinham um espaço remunerado.

O corpo e a vida de meninas não podem ser mais importantes do que fechar a publicidade do mês, não é mesmo?

 

Ouça o “Caso K – A História Oculta do Fundador da Casas Bahia” em seus tocadores de podcast.

 

Taty Valéria

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