Machismo e racismo num só lugar: “Queria que a escravidão voltasse. Não ia ter conversa, você ia ter que fazer sexo comigo”

By 4 de outubro de 2019Brasil, Justiça
Eunice Cides de Oliveira

Escritório da Club Med, empresa de turismo, em Botafogo, zona sul do Rio. Terça-feira, 10 de setembro. Horário de almoço. Eunice Cides de Oliveira, de 30 anos, conversava com colegas na copa. E foi ali que diz ter sido assediada no trabalho de uma forma que mostra como o racismo está ainda tão presente em nossa sociedade.

“Queria que a escravidão voltasse. Não ia ter conversa, você ia ter que fazer sexo comigo.” Foram essas as palavras do colega Sérgio Simões, segundo Eunice.

Em depoimento ela, que é agente de viagens da Club Med, contou que o ataque não se resumiu a
essa frase. “Esse funcionário pegou no meu braço, chegou dizendo que queria que a escravidão voltasse, que eu teria que fazer sexo com ele, repetindo o tempo todo que eu deveria fazer o que ele quisesse, como se fosse a coisa mais normal do mundo”, declarou. “Ainda fazia gestos como se estivesse me chicoteando, fazendo sexo comigo.”

Como reação de momento, Eunice lembra que só conseguiu retrucar: “Sério que você vai falar isso mesmo?” O homem, então, teria continuado rindo, como se tudo fosse uma brincadeira.

De acordo com o testemunho de Eunice, parece que seus superiores não estão muito ligados na perversidade desses problemas. E da maneira criminosa com que foi assediada no trabalho.

No mesmo dia em que foi atacada, ela comunicou o fato a seu coordenador, nervosa e tremendo  muito. Ele a teria chamado para uma sala e convocado outro supervisor. “Eles queriam que eu fosse conversar com o agressor”, diz. “Respondi que eu não tinha condição nenhuma. Foram lá falar com ele, e o cara disse que iria me pedir desculpa quando cruzasse no corredor.”

Na Justiça

Uma ocorrência por injúria racial contra Sérgio Simões foi registrada na Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) pelo advogado da vítima, Bruno Cândido.

Contra o coordenador de Eunice, foi registrada uma ocorrência por injúria simples.
Isso porque, três dias depois de ter denunciado que foi assediada no trabalho, ela ligou para esse supervisor para comunicar que tinha ido a uma psiquiatra e não fora trabalhar por recomendação da psicóloga.  Quando desligaram, o coordenador enviou uma mensagem por WhatsApp por engano para Eunice. O destinatário seria outro supervisor da Club Med, mas o chefe trocou os números sem querer. O conteúdo da mensagem: “Filha da puta!! Chata pra caralho!!!!”

Versão da empresa

Por meio da assessoria de imprensa, a Club Med informou que demitiu Sérgio Simões. Testemunhas teriam corroborado que ele era reincidente em piadinhas e falas assediadoras.
A empresa argumenta ainda que a discriminação é contrária a seus valores. E que diversas vezes convidou a colaboradora para abrir um diálogo após o ocorrido.

Porém, segundo Eunice, o RH da Club Med fez um único chamado para ouvi-la, e isso nove dias depois do episódio de racismo e assédio sexual. Ela está afastada do trabalho por estresse pós-traumático. Seu advogado protocolou ainda uma denúncia contra a empresa no Ministério do Trabalho.

do Catraca Livre

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