Como exercer a sororidade plena e irrestrita num mundo cheio de mulheres reproduzindo discursos machistas?

By 6 de novembro de 2019Lute como uma garota

São poucas as situações que me provocam mais espanto e incredulidade do que me deparar com mulheres reproduzindo discursos machistas. Não é só aceitar o comportamento machista do companheiro. Não estamos falando aqui da sua avó que foi criada num contexto social totalmente diferente do seu, e que diz que menina comportada deve sentar de pernas fechadas.

Estamos falando aqui de mulheres com acesso à educação, leitura, vivência acadêmica, que trabalham fora e que conseguem se bancar. Que são médicas, advogadas, engenheiras, e até em alguns casos, conseguem se eleger vereadoras e deputadas federais. São essas mulheres o meu maior obstáculo quando se trata em exercer a sororidade plena e irrestrita.

Essas mulheres, ou não compreendem o real sentido do significado da cultura machista e seus malefícios sociais, ou simplesmente não se importam, pois, enquanto mulheres “direitas, de bem, cristãs, defensoras da moral e dos bons costumes” se sentem protegidas da violência institucional que o autoritarismo patriarcal provoca.

Essas mulheres desprezam qualquer luta feminista e o próprio feminismo. Dizem “não precisar dele”, esquecendo, eu querendo esquecer, que foi a luta feminista que permitiu que as mulheres pudessem estudar, trabalhar, votar e ser votada. Elas dizem não precisar do feminismo quando foi o feminismo que lhes deu voz para dizerem que não precisam do feminismo. Confuso?

Joice Hasselmann, sofrendo pelo que ajudou a construir

A deputada federal Joice Hasselmann (PSL) é a mais nova vítima do ataque machista e violento que acompanham de forma perene a alta cúpula governamental do país. Agora considerada “adversária” do presidente Bolsonaro, Joice vem sendo atacada pelas mesmas pessoas e com os mesmos argumentos que ela mesma usou em benefício próprio.

Durante a sessão ordinária da Câmara Federal realizada na última terça-feira (5), Joice abriu seu coração “Peço que me desculpem a emoção, mas quando meu filho entrou nessa história o coração não aguenta. Mesmo embaixo desse couro duro existe um coração de mãe”, disse ela. “Quando meu filho perguntou: ‘Por que estão fazendo isso com você?’, eu respondi: ‘Porque há criminosos’”.

É lamentável o que vem acontecendo com a deputada. Sim. Mas Joice, enquanto idiota útil e massa de manobra, sentia-se protegida. Ela não deve ter imaginado que essas pessoas só protegem seus iguais. É uma falha grave a análise de contexto de qualquer mulher que se sente protegida e por fazer parte do “clube”. Nenhuma mulher faz parte desse clube.

Fascistas não distinguem mulheres “direitas, de bem, cristãs, defensoras da moral e dos bons costumes”.

Pra eles, ou são úteis, ou não são.

Taty Valéria

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