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Imagina a situação:
Você tá de boas almoçando num restaurante e de repente um estranho chega perto e diz que quer namorar. Você ri, responde que não tem interesse e o cara começa a te perseguir. Um estranho, que aparece do nada, começa a te seguir na faculdade, no trabalho, vai atrás dos seus amigos e sua vida vira um inferno.
É exatamente o que está acontecendo com uma moça de Botucatu, interior de São Paulo.
A estudante M.N., de 24 anos (ela prefere não se identificar), está sendo perseguida por um homem desconhecido no campus da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho de São Paulo (Unesp).
Ela, que é médica veterinária e faz residência na universidade, conta que o assédio que começou em abril deste ano. “O primeiro contato foi durante o almoço”, diz ela. “Um homem de aproximadamente 30 anos me abordou e perguntou se eu queria namorar com ele. Naquele momento, achei que era algum tipo de brincadeira, só que os assédios continuaram”, revela. “Ele passou a me esperar do lado de fora do meu trabalho, no horário do almoço e me seguia até o restaurante, que é aberto é frequentado também por pessoas que não estudam no campus.”
Segundo M., o rapaz parou de abordá-la diretamente, mas continuou a seguindo todos os dias até o restaurante. Quase dois meses depois, em junho, ele mudou a forma de perseguição: “Passou a me abordar de um jeito constrangedor e até invasivo, perguntando se queria namorar com ele e dizendo que me amava”, relembra a médica veterinária.
Em julho, a veterinária tirou 15 dias de férias. A ausência o fez ficar ainda mais agressivo e ela, com mais medo. “Assim que retornei ao campus, o rapaz estava me esperando após o almoço com um presente. Ele se aproximou e tentou me abraçar ou me beijar. Consegui me afastar, mas fiquei bastante assustada”, conta.
No mesmo dia, ela diz que foi a um posto policial, ao lado da universidade, para registrar uma queixa da perseguição. “O policial verificou a história pelas câmeras de vigilância e conseguiram descobrir quem era o rapaz, mas como não foi comprovada ameaça ou agressão, me disseram que não era possível fazer nada contra ele”, revela.
No início de agosto, no entanto, M. viveu o que compara a uma história de terror, quando passou a receber mensagens de colegas que diziam que seu perseguidor havia ido até seu local de trabalho para perguntar por ela. “Cientes da história, meus colegas disseram que eu estava de férias, mas o homem afirmou que sabia que eles estavam mentindo”, lembra ela.
Um dia depois, M. decidiu procurar registrar um boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher, em Botucatu. Enquanto prestava queixa, recebeu mensagens dos colegas de trabalho contando que o perseguidor a esperava no campus. “A Polícia Militar o levou até a delegacia”, conta.
“Eu achava que seria acolhida na delegacia voltada à mulher, mas ouvi absurdos e comentários machistas como: ‘se ao menos ele fosse bonito’, ‘isso está acontecendo porque você é bonita’, entre outras coisas”, descreve. “Além disso, queriam colocá-lo na mesma sala em que eu estava. Tive que pedir para eles o tirarem dali. Mesmo com o boletim de ocorrência e as testemunhas, os policiais me falaram que não podiam fazer nada, pois ‘não tínhamos vínculos afetivos'”, conta a veterinária.
Em meados de setembro, mais uma surpresa: M. acordou com várias mensagens do rapaz em seu Whatsapp, enviadas durante a madrugada. “Ele conseguiu meu telefone por meio do boletim de ocorrência”, afirma ela. No mesmo dia, fui à delegacia e ouvi a mesma explicação: ‘Eles não podiam fazer nada, pois não temos vínculos’. Eu bloqueei o número dele no Whatsapp, mas ele passou a me ligar sem parar. Depois, passou a me mandar mensagens e me ligar de outro número de telefone”, conta a médica. “Ele também descobriu o endereço da testemunha e foi até a casa dela. E se ele for atrás de mim?”, questiona.
Em nota, a Unesp afirmou que busca alternativas à segurança dos presentes no campus. “Diante da gravidade do relato, a Universidade se solidariza com a médica veterinária, repudia toda forma de assédio e se coloca à disposição, por meio da Ouvidoria, para buscar alternativas para que ela se sinta mais segura no campus universitário”.
A história, que não termina aqui, deixa várias questões em aberto, especialmente no que diz respeito à segurança de M.
da revista Marie Claire