Publicamos aqui o caso de Camila Graciano, grávida que contraiu coronavírus no chá de fraldas, e que perdeu a vida ao ser contaminada por uma amiga que não sabia que estava com o vírus.
A notícia abalou especialmente as gestantes que estão na reta final da gravidez e que, além das angústias naturais dessa fase, ainda precisam lidar com a falta de compreensão e consciência da própria família.
Uma leitora do Paraíba Feminina, que preferiu não se identificar, conta que tem recebido uma grande pressão do seu círculo familiar para receber visitas quando a filha nascer. Ela está no oitavo mês de gravidez.
“É muito difícil ter que lidar com isso. Avisei no grupo da família que não queria receber visitas, que as pessoas iriam conhecer minha filha virtualmente e o chão se abriu e o céu desabou. Minha sogra me disse que isso era absurdo, que eu só estava pensando em mim. Senti que o peso do mundo inteiro descarregou nas minhas costas”, afirmou.
Ela nos conta que recebeu de presente um chá de fraldas virtual. As amigas se uniram, escreveram cartas e bilhetes e mandaram presentes. “Claro que eu gostaria de ter a presença das minhas amigas, das pessoas que eu amo, mas ainda não me sinto segura, sei que as pessoas ainda estão adoecendo e morrendo. Não sou chata, mas o período não nos permite, estamos vivendo um tempo complicado”.
Apesar de todo desgaste, ela tem razão em impor limites.
Mesmo antes da pandemia, a cultura das visitas pós parto deveriam ser repensadas. O estresse causado pelo excesso de visitas ou mesmo pelos telefonemas de pedidos para ir até a casa do recém-nascido agita o ambiente, deixa a mãe, muitas vezes, tensa e mal humorada (o que reflete no humor do bebê) e pode até potencializar uma depressão pós-parto.
“O puerpério, com a amamentação e os cuidados com a criança, é um momento ímpar em que o vínculo entre mãe e filho se restabelece após o rompimento marcado pelo parto”, diz Maria Tereza Campos, psicóloga especialista em psicologia clínica de São Paulo e professora universitária. Sendo assim, receber visitas –programadas ou não– deveria ser a última coisa que as famílias deveriam se preocupar, ainda que queiram muito rever amigos e familiares e apresentar o bebê a eles. Como é natural que as pessoas fiquem ansiosas para conhecer a criança, é preciso pôr limites.
Cada mulher é única. Algumas se sentem acolhidas e confortadas com a casa cheia de gente. Outras se sentem invadidas e desrespeitadas. O puerpério é uma fase complicada do ponto de vista emocional, e o bem estar da mãe reflete de forma direta na saúde do bebê.
Além disso, nunca é demais lembrar que o Brasil é hoje o campeão mundial de gestantes mortas por coronavírus, e essas mulheres representam um dos grupos de risco. O último levantamento na Paraíba regrista 7 mortes de gestantes por covid-19.
Taty Valéria