Paraíba Feminina entrevista pré-candidatas do segmento LGBTQ+: Joel Cavalcante

By 27 de agosto de 2020Politica

Seguindo a série de entrevistas com pré-candidaturas do campo LGBTQ+, vamos conhecer uma proposta coletiva.

Joel Cavalcante (ao centro) e seus companheiros de pré-candidatura coletiva

Joel Cavalcante tem 33 anos e é natural de Alagoinha. Professor de História em escola pública, é advogado e estudante de jornalismo. Militante dos direitos humanos e LGBTQI+ desde 2011, começou a militar em movimentos sociais porque acredita na força e no poder do povo quando se organiza na contra a discriminação, por políticas públicas e na construção de uma sociedade mais justa e solidária. Se sentindo “engessado” nas funções normais de um servidor público, Joel se sentia impelido à ir além, a gastar parte do seu tempo por uma causa coletiva.

Fez Direito direito para compreender melhor o funcionamento das leis e do Estado, e começou a luta por direitos humanos e pela cidadania LGBTQIA+. Em 2011, participou da Conferência LGBT de Guarabira, quando foi escolhido para a Conferência Estadual LGBT e delegado para II Conferência Nacional de Direitos Humanos LGBT. Se associou ao MEL – Movimento do Espírito Lilás, sendo a organização que está há mais tempo lutando pela causa LGBTQIA+ na Paraíba. Assumiu o cargo de conselheiro suplente no Conselho Estadual de Direitos Humanos e hoje é associado da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia e membro do Fórum de Diversidade Religiosa da Paraíba.

Por que você decidiu concorrer à uma vaga na Câmara Municipal?

Quem faz militância social sabe que muitas das ações pelas quais lutamos passam pelo parlamento. Se a gente quer construir uma sociedade melhor, mais justa, sem preconceitos, a gente tem que adentrar nos espaços de decisão. Disputar uma vaga na Câmara Municipal de João Pessoa é a possibilidade de apresentar para a população um projeto coletivo, democrático e participativo no parlamento. Estou dentro de uma pré-candidatura coletiva. Somos cinco pessoas, dois homens e três mulheres, de movimentos e segmentos sociais diferentes, mas que desejam ver suas vozes, suas necessidades, suas demandas na Câmara Municipal. Disputar uma vaga de vereador, no meu caso, de co-vereador, é percorrer um caminho que busca fazer de João Pessoa uma cidade mais inclusiva e a serviço do povo negro, pobre, periférico, LGBTQIA+, das mulheres, dos desempregados/as, professores/as, trabalhadores/as informais, dos sem teto, da juventude, enfim, de todos e todas que, muitas vezes são vistos apenas no período eleitoral.

 

Parlamentares com perfil LGBT ainda são raras exceções. Como pretende lidar com a homofobia institucional, especialmente num cenário político cada vez mais conservador?

O Brasil é o país que mata LGBTQIA+ do mundo. Temos poucos parlamentares assumidamente LGBTQIA+ no país todo; na Câmara Municipal de João Pessoa, não há nenhum vereador ou vereadora de nossa comunidade. O preconceito e a discriminação estão em todos os espaços. Sou professor e já enfrentei na escola. Sei de colegas que passaram por situações vexatórias, tristes. Mas todos enfrentamos isso como sempre: de cabeça erguida e sem calar a voz. Somos acostumados, desde a nossa criação em casa, a passar por isso. Lembro que quando me assumi para meu pai, de tudo que passei, eu sempre falava para meus amigos: depois que enfrentei meu pai não terei medo de enfrentar ninguém por causa de minha orientação sexual. Se o coletivo Nossa Voz, a pré-candidatura que faço parte, for eleito, estarei enfrentando a homofobia institucional como sempre enfrentei ao longo da vida, com o diferencial de que agora, no parlamento, terei oportunidade de lutar para diminuir esse problema. O conservadorismo existe e é muito forte, mas temos, também, muito apoio de camadas importantes da população, que entendem que o direito à liberdade sexual é um direito humano importante. A homofobia foi equiparada ao crime de racismo pelo STF. Temos, apesar dos pesares, uma proteção jurídica que possibilita seguir com nossas pautas sem medo.

Quais os maiores desafios que você enfrentou até decidir concorrer?

O desafio de disputar uma vaga no legislativo é muito grande, sobretudo, quando você não tem sobrenome político e nem dinheiro. Mas ele foi atenuado pelo fato do coletivo, da pré-candidatura não é individual, mas parte de um grupo formado por muitas pessoas. Sou um dos cinco, juntamente com Zefinha do MTD, Marquinhos, Heloisa de Sousa, Juliana, que representam um grupo bem maior. Temos um conselho político formado por pessoas das igrejas, universidade, educação, vários movimentos sociais, que estão orientando e construindo Nossa Voz também. Cada um, cada uma do/a militantes vem de anos nas lutas sociais em João Pessoa, então, quando foi somando a luta e o sonho de um companheiro, mais a luta e sonho de outra companheira, junto com minha luta e meu sonho, percebi que valia a pena colocar o nome à disposição do povo de João Pessoa.

Quais são suas principais bandeiras de luta, e como pretende trazer essas pautas para o trabalho na Câmara Municipal?

Nossas bandeiras de luta estão dentro dos movimentos sociais que representamos. Lutamos contra à discriminação racial, o machismo, o patriarcado, a misoginia, a LGBTfobia, o capacitismo, por moradia, por políticas para a juventude, por uma transporte público mais eficiente e barato, por uma educação pública de qualidade e que valorize os profissionais da educação, na defesa do SUS, pelos direitos dos animais, por um meio ambiente preservado, por políticas culturais efetivas e sem criminalização da cultura periférica, etc. Estamos tendo plenárias virtuais onde ouvimos especialistas e militantes sobre as mais diversas temáticos e construindo uma carta-programa para apresentar ao povo de João Pessoa. O mais importante de tudo: as propostas estão sendo construídas coletivamente. E coletivamente queremos construir o mandato, caso sejamos eleitos/as. O Conselho Político vai funcionar de verdade. Queremos organizar plenárias nas comunidades e bairros para ouvir as pessoas e levar suas demandas para a Câmara Municipal. Nenhuma decisão será tomada sem passar pelo coletivo. Oficialmente, Marquinhos é o vereador, aquele que estará na tribuna, nas comissões, mas tudo que for falado será em nome da Nossa Voz, discutido, antes por nós cinco e pelo Conselho Político. Apresentamos, portanto, uma proposta coletiva e socialista de fazer a política parlamentar a João Pessoa.

Saiba mais sobre Joel Cavalcante em seu perfil @joelcavalcante_

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