Paraíba Feminina entrevista pré-candidatas do segmento feminista: Jô Oliveira

By 3 de setembro de 2020Politica

Nós que fazemos o Paraíba Feminina entendemos que o jornalismo possui uma função social. Nesse sentido, e dando continuidade à uma série de entrevistas com pré-candidaturas alinhadas com o bem coletivo e com uma visão política inclusiva, cidadã e participativa, inciamos hoje uma nova parte desse projeto. Você já acompanhou aqui perfis de pré-candidaturas com perfil LGBTQI+, a partir de hoje, vamos conhecer mulheres pré-candidatas à Câmaras Municipais e que tenham atuação no campo feminista.

Jô Oliveira

Jô Oliveira é campinense, filha de empregada doméstica/costureira. Criada sozinha pela mãe, mulher negra e pobre, Jô entendeu desde muito cedo que precisava enfrentar o mundo de cabeça erguida e seguir na luta por espaço na sociedade. Estudou em escola pública, é assistente social de formação e mestra em Serviço Social pela UEPB. Sua atuação política começou no movimento estudantil, fez parte do centro acadêmico de Serviço Social e concorreu às eleições do Diretório Central dos Estudantes da UEPB. No segmento juventudes, a militância inicia com a aproximação das atividades da Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP, e depois integrando a Associação de Juventude pelo Resgate a Cultura e Cidadania – AJURCC, onde foi sócia-fundadora.

Enquanto integrante desses espaços, discutiu sobre políticas públicas de juventude e de gênero com vários outros grupos similares e com organismos de Estado nacionais e internacionais, especialmente no âmbito do MERCOSUL. Integrou o conselho municipal do Orçamento Participativo, a Rede de Jovens do Nordeste, e o Conselho Estadual de Juventude da Paraíba – CEJUP. Em 2015 participou da organização estadual da Marcha Nacional das Mulheres Negras. Se candidatou em 2016 e obteve 1.544 votos, ficando na primeira suplência.

 

Por que você decidiu concorrer à uma vaga na Câmara Municipal?

Foi a partir das experiências e dos processos formativos que vivi e me senti desafiada a ocupar uma vaga no Legislativo Municipal, por entender que enquanto mulher, negra, periférica, não me reconheço nas pessoas e pautas que ocupam a Câmara de Vereadores de Campina Grande, e acredito que um legislativo mais eficiente se faz com representatividade, participação e com o debate sobre a realidade do município a partir das verdadeiras demandas da população.

 

Na sua opinião, qual a importância de ter uma mulher feminista ocupando um espaço de poder?

A principal questão é para garantir as nossas vozes, historicamente silenciadas, possam reverberar nos espaços de decisão,  uma vez que todas as políticas públicas impactam na vida das mulheres e enquanto conjunto da sociedade ligado a um campo mais progressista, na defesa de um estado democrático de direito, se faz necessário ampliar a nossa capacidade de fazer política, no sentido de melhor pontuarmos as problemáticas relativas às questões: racial, de gênero, de geração, de território, e demais aspectos que dizem respeito a construção de uma sociedade justa e igualitária.

 

Dentro da sua trajetória, quais as maiores dificuldades que você encontrou até se firmar pré-candidata?

Trazendo um pouco do que vivenciamos no processo eleitoral de 2016, podemos pontuar dificuldades centrais nessa temática:

  1. Estereótipo do candidato, uma vez que há no imaginário do eleitorado que “o político” é homem, branco, de meia idade, e rico. Então, apresentar uma candidatura como a nossa, é trazer também o debate, muitas vezes pedagógico, do quanto estamos sub representadas, e que sim, é possível construir uma representação política mais aproximada da realidade da cidade, que é composta em sua maioria por mulheres (54,7% do eleitorado) e pessoas negras (52%);
  2. O fazer político tradicional e familiar, pois muitos do que ocupam os espaços de poder como câmara de vereadores em Campina Grande (isso repete país a fora), são integrantes de famílias ricas, com histórico político, e seus sobrenomes muitas vezes são “a garantia” de suas capacidades, e se colocar como a filha de uma trabalhadora doméstica e negra é romper cada dia mais um pouco essa lógica;
  3. Outro ponto extremamente relevante diz respeito aos aspectos financeiros, em que as candidaturas de mulheres negras historicamente recebem menos recursos, a exemplo das eleições de 2018, que apenas 2% do fundo partidário foram destinados para candidaturas com o nosso perfil. Isso implica em menos inserção na mídia, e menos tempo para apresentação de nossas propostas, sendo necessário criar outras estratégias para garantir que tenhamos melhores condições de disputas, e vale lembrar a importante vitória conquistada a poucos dias no TSE para o financiamento e tempo de propaganda para candidaturas de negras e negros, a partir de 2022.

Mas vale salientar que mesmo com estas dificuldades, e tantas outras que poderíamos listar aqui, tem coisas que são fundamentais: a identificação com as bandeiras que assumimos e o que representamos move corações e mentes e se cria uma rede de solidariedade, que gera energia para darmos passos na direção de um projeto de sociedade inclusivo e plural, tendo a nossa cidade como referência, uma vez que Campina Grande nunca teve uma mulher negra eleita para a câmara de vereadores ou à prefeitura.

 

As mulheres representam 52% do eleitorado no Brasil, mas só 15% das cadeiras legislativas municipais são ocupadas por mulheres. Como você analisa esse número?

Sempre vejo com preocupação porque somos a maioria da população, a maior parcela do eleitorado, que tem possibilidade real para a escolha de suas representações políticas, e isso não se traduz nos espaços onde as políticas que dizem respeito a nossas vidas são pensadas, debatidas, o que resulta em leis ou projetos que não dialogam com a nossa realidade.

Trazendo esse debate para Campina Grande, 47% dos projetos de leis apresentados ultimamente dizem respeito a nomeação de ruas. Onde ficam as pautas relevantes para a população do município? Temos problemas sérios na saúde, educação, assistência social, mobilidade urbana e quem fala por nós?

E se esse número de 15% é preocupante quando falamos no cenário nacional, em Campina é muito pior, pois das 23 vagas na câmara de vereadores, apenas uma é ocupada por mulher (que nem vou me aprofundar aqui a sua vinculação familiar), o que nos dá 4,34% de representação.

De novo, não custa lembrar: todas as políticas impactam na vida das mulheres, e das negras, muito mais!

 

Quais são suas principais bandeiras de luta, e como pretende trazer essas pautas para o trabalho na Câmara Municipal?

Sabemos que as demandas reais da população são muitas e diversas, e que se faz necessário garantir um olhar especial para cada uma delas, no sentido de minimizar os efeitos negativos que eles acarretam nas nossas vidas. De todo, é preciso tratar com maior atenção: saúde, educação, assistência social, cultura, entre outras questões ligadas ao direito a cidade, que tenham o olhar das juventudes, mulheres, população negra, LGBTQIA+, pessoas com deficiência, e trabalhadores do campo, numa construção coletiva das escolhas por estas bandeiras de luta e mantendo o compromisso de realizar um mandato que dialogue permanentemente com a população, para a construção do nosso bem viver.

Saiba mais sobre Jô Oliveira em seu perfil: @jooliveiracg

Leave a Reply

%d blogueiros gostam disto: