Paraíba Feminina entrevista pré-candidatas do segmento feminista: Zezé Béchade

By 8 de setembro de 2020Politica

Dando continuidade à uma série de entrevistas com pré-candidaturas alinhadas com o bem coletivo e com uma visão política inclusiva, cidadã e participativa, vamos conhecer mulheres pré-candidatas à Câmaras Municipais e que tenham atuação no campo feminista.

Zezé Béchade

Zezé Béchade começou a militância política no período em que o povo foi às ruas para pedir a democratização do país e Diretas Já, após os 21 anos de Ditadura Militar. Participou ativamente das greves e comícios e já era considerada “petista” antes mesmo de se filiar a qualquer partido. Quando do período de transição para o Governo Civil e o Plano Cruzado de Sarney chegou, foi uma das pessoas que entraram na lista de demissão do Unibanco. Depois, foi trabalhar no BEMGE (Banco do estado de Minas Gerais) e, devido ao Plano Collor, ficou mais uma vez desempregada. Naquele momento, poupanças foram confiscadas e Zezé foi às ruas novamente, dessa vez como os “cara-pintadas”.

Entrou na UFPB e lá se envolveu com o CA de Comunicação, representando os estudantes no Conselho Universitário (CONSUNI). Junto com colegas de curso, fundou a Agência Júnior de Comunicação, oportunidade que a fez atuar em sua primeira campanha eleitoral, do então deputado estadual Luiz Couto, sendo sua primeira assessora de imprensa. Foi nesse momento que conheceu o PT por dentro e se filiou. Nesse período virou ativista dos Direitos Humanos, e considera o período em que trabalhou com Luiz Couto como uma escola, onde aprendeu a fazer política com ética, coerência e luta pela dignidade da pessoa humana.

Foi também na universidade que sua militância feminista aflorou. A inquietude sobre a condição de desigualdade entre homens e mulheres estavam lá em seus textos e atitudes. Participou de algumas reuniões e oficinas de mulheres e teve a oportunidade de ser selecionada para estagiar no Centro da Mulher 8 de Março, ao lado de Glória Rabay, Irene Marinheiro, Guia Costa e Valquíria Alencar, a quem considera grandes referências feministas no cenário local.

Zezé considera que esses momentos que a levaram a ver de perto o sofrimento das mulheres e das pessoas da periferia, que em muito se identificaram com a batalha de ter vindo de uma família pobre que migrou do interior para Capital em busca de melhores condições de vida e de estudo para os filhos e filhas, e que morou em uma casa de dois quartos para abrigar uma família com 6 irmãos.

Participou de todas as manifestações políticas, sociais e feministas (por Democracia, Grito dos Excluídos, Ele Não, 8 de Março, Marcha das Margaridas, Marcha Mundial das Mulheres, Contra Privatizações, Contra Reformas Nefastas, por Lula Livre, etc). Filiada ao Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras há 25 anos, já participou de várias direções. Atualmente é secretária estadual de Mulheres do PT, eleita, e secretária Municipal de Comunicação. Sendo a primeira vez que se coloca como pré-candidata à vereadora.

 

Por que você decidiu concorrer à uma vaga na Câmara Municipal?

Porque depois de tantos anos militando, me indignando com as condições de vida das pessoas mais necessitadas, lutando contra a violência contra as mulheres, contra o povo negro,  indígenas,  contra a falta de oportunidade para os jovens, com o desrespeito para com a vida das crianças, dos idosos, com o fazer político sem ética e sem preocupação com a qualidade de vida das pessoas, principalmente daquelas que vivem nas periferias, me senti preparada para lutar de forma a combater essa falta de esperança em que se tornou a política do nosso país e na nossa cidade. Senti que era o momento de tentar dar respostas, propor leis que possam trazer qualidade de vida para as pessoas e que façam de João Pessoa uma cidade moderna, com infraestrutura e equipamentos que realmente afetem positivamente a vida de todas e todos que aqui habitam.

Por outro lado, me preocupa muito esse retrocesso instalado no País e que tem consequências fortes em nossa cidade, onde direitos estão sendo cortados, negados e uma onda autoritária, preconceituosa, machista e fascista se alastram afetando principalmente as mulheres e as populações negras, periféricas e LGBTQI+.

 

Na sua opinião, qual a importância de ter uma mulher feminista ocupando um espaço de poder?

Primeiramente pela negação histórica de nossos direitos e de convivência na esfera pública. Segundo porque lutamos para sermos livres e poder exercer nossa cidadania ativamente em qualquer esfera de poder e em qualquer lugar em que queiramos participar. E terceiro porque nós, feministas, lutamos pelo bem viver não somente das mulheres, mas, também, pela vida dos homens, das crianças, dos jovens, dos idosos, enfim, de toda a família. Lutamos pelo Meio Ambiente, pelos direitos dos animais, pela Educação, pela Saúde, pela paz, por um mundo mais justo, igualitário e com qualidade de vida para todas e todos.

 

Dentro da sua trajetória, quais as maiores dificuldades que você encontrou até se firmar pré-candidata?

Nós mulheres, na maior parte das vezes, não somos vistas como um quadro em potencial, como um ser político e que podemos ser apoiadas para exercer os mais diversos cargos de poder. Depois, o fato de que nós mulheres, muitas vezes, somos vistas apenas para compor cotas ou para executar alguns tipos de tarefas. Outro ponto de dificuldade são os recursos, que são limitados, principalmente, para quem sai pela primeira vez.

 

As mulheres representam 52% do eleitorado no Brasil, mas só 15% das cadeiras legislativas municipais são ocupadas por mulheres. Como você analisa esse número?

Essa disparidade é reflexo de uma sociedade injusta e que não exerce de fato a democracia. Em um país onde mais da metade da população é composta por mulheres, não é justo que o fazer político seja feito, protagonizado, em sua maioria pelo gênero masculino. Eu diria mesmo que é uma violência política contra nós mulheres, porque é efeito de uma violência simbólica onde algumas mulheres são tolhidas quando não pelos próprios partidos políticos, mas por pessoas que não querem vê-las ocupar esses espaços que historicamente foram “reservados” para os homens ou para quem vem de uma linhagem de políticos tradicionais.

A mulher precisa ser vista e ver outras mulheres como seres capazes de ocupar cadeiras legislativas, executivas ou qualquer outro espaço de poder. Assim como os homens precisam colocar em prática o discurso de que defendem a igualdade de gênero, a justiça social, que defendem a presença da mulher na política. É preciso colocar em prática uma política diferente, apoiando candidaturas femininas e abrindo espaços para que as mulheres possam caminhar lado a lado com os homens, com outro olhar e outras perspectivas do fazer político.

 

 Quais são suas principais bandeiras de luta, e como pretende trazer essas pautas para o trabalho na Câmara Municipal?

Após uma crise dessa, com a pandemia do Coronavírus, é muito importante ter um olhar especial para o emprego e a renda das pessoas. Muita gente perdeu seu trabalho e está passando por momentos difíceis. Pretendo lançar projetos para contribuir nessa área. Além disso, quero cuidar da qualidade de vida das pessoas de João Pessoa, através do respeito aos Direitos Humanos das mulheres, dos homens, dos jovens, das crianças e adolescentes e dos idosos, sejam brancos, negros, indígenas, LGBTQI+, migrantes; lutar por uma Educação de qualidade e gratuita, melhoria da Saúde, do Lazer, Esporte, Cultura, Meio Ambiente, Turismo e os Direitos dos Animais. Tudo dentro de uma perspectiva onde a diversidade cultural, étnica, religiosa e de gênero seja respeitada e pensando sempre em um novo modelo de cidade.

 

Saiba mais sobre Zezé Béchade em seu perfil: @zezebechade

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