A eterna luta contra a homofobia entre vizinhos no relato de um casal gay: “vão ter que nos respeitar, não é uma opção”

By 19 de setembro de 2020Vá se tratar

Gente feliz não enche o saco, mas gente infeliz tem esse dom.

O maquiador Felipe Alves, de 26 anos, foi surpreendido com um bilhete deixado na sua porta. Um vizinho escreveu à mão uma reclamação por ele andar de mãos dadas com o namorado nas áreas comuns do prédio onde mora em Joinville, no Norte de Santa Catarina.

 

Olá vizinho. O Condomínio Piratuba é um local de família. Respeitamos todas as pessoas e não nos importamos com o que cada um faz dentro de sua casa. Mas essa semana eu tive que explicar pro meu filho pequeno o porquê de dois homens de mãos dadas andando pelo estacionamento. Respeito por favor“, diz o bilhete escrito à caneta em uma folha de caderno. O remetente não se identificou.

“Quando eu li, fiquei sem reação, eu não esperava receber isso em 2020. Fiquei com muita raiva e amassei. Depois respirei, guardei e não contei para o meu namorado porque não queria ele ficasse triste com a situação”, conta Felipe.

Ele mora no residencial na zona Lesta da cidade há pouco mais de um mês e o namorado estava na casa dele. “É normal a gente andar de mãos dadas, algo natural”, contou Felipe, que tem uma barbearia na cidade voltada para o público LGBT e mulheres com cabelos curtos.

 

“Lutar contra homofobia e lgtfobia é algo que faz parte da nossa vida, só que não esperava que acontecesse dentro de casa”. Ele recebeu o bilhete na sexta-feira (11) e na segunda-feira (14) resolveu expor a situação no grupo de um aplicativo de mensagens dos moradores do seu bloco. Depois, ele também postou em suas redes sociais.

“Tentei ser o mais educado possível e até me prontifiquei, falei: Se você que não se identificou tiver dificuldades para educar seu filho, de explicar para ele que existe diversidade, que existem casais formados por pessoas do mesmo sexo, posso fazer uma cartilha para você ensinando de uma forma bem didática e ilustrada a educar seu filho, para que não seja preconceituoso que nem você”, disse Felipe.

Apoio dos vizinhos

Após expor a situação, ele conta que recebeu mensagens de apoio de vizinhos. Segundo Felipe, ele e outros moradores do bloco pediram que o condomínio se manifestasse sobre o caso. “Pedi que fizesse alguma manifestação pública para que os moradores soubessem que existe diversidade e que levasse ao conhecimento de todos os moradores o caso de homofobia que eu sofri”, disse.

Ainda de acordo com o morador, após muita insistência dele e de outros moradores, foi enviado um áudio na linha de transmissão do condomínio informando que no bloco F tinha ocorrido um caso de homofobia e que o o condomínio não compactuava com a situação. Ele diz não ter recebido mensagens privadas do síndico, todas as manifestações foi no grupo do aplicativo e públicas.

“Por mais que tenha achado extremamente ofensivo, não me senti ameaçado. Me senti desconfortável pelo fato de o condomínio não dar nenhum apoio além de um áudio após muita insistência. Não tem nada no mural falando sobre respeito, diversidade, não foi encaminhado e-mail. Estão agindo como se fosse um bilhetinho, um problema entre vizinhos, enquanto que na verdade foi um crime de homofobia”, reclamou Felipe.

O síndico do condomínio lamentou o ocorrido e disse que se manifestou com os demais moradores tão logo soube do ocorrido. Segundo Charles Scheel, em 15 anos morando no local nunca soube de uma ocorrência como esta.

“Infelizmente não foi possível identificar o autor do bilhete. Em função disto, o condomínio emitiu uma circular informando o ocorrido aos demais moradores e informando que não compactua com este tipo de postura”, disse.

O responsável afirmou ainda que orientou que Felipe registrasse um boletim de ocorrência. “Para que, se no futuro for identificado o autor, este seja acionado judicialmente pelo crime de homofobia”, afirmou.

O maquiador não pretende registrar boletim de ocorrência. “Foi escrito à caneta, talvez consigam identificar, mas realmente não gostaria de saber qual vizinho é, prefiro pensar que foi um caso isolado, a pessoa teve um surto e enviou aquilo e não vai enviar novamente. Não gostaria de processar e que ela fosse expulsa porque ela iria aprender, mas não traria satisfação pessoal”, afirmou.

“Só gostaria que meus vizinhos entendessem que Joinville é uma cidade com bastante diversidade, onde nem todas as famílias são compostas por pais e mães cristãos, brancos, que existe diversidade seja de cor, de gênero, seja de sexualidade e que vão ter que nos respeitar, não é uma opção”, afirmou.

com informações do G1

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