Os relatos de tráfico sexual de uma brasileira atriz em Hollywood

By 1 de outubro de 2020Lute como uma garota

A infância pobre, a repressão religiosa e os conflitos familiares marcaram boa parte da vida de A Maia na cidade de Juiz de Fora (MG), onde nasceu, mas nada chegou perto dos abusos que sofreu quando foi levada do Brasil por um grupo de criminosos. A atriz e cantora viveu três meses de horror em Londres ao cair numa armadilha da gangue. Hoje, ainda com marcas emocionais do trauma, ela revela ter sido foi vítima de tráfico sexual.

“Eu estava prestes a completar 18 anos e vivia numa realidade de muita pobreza e nenhum apoio. “O convite veio na forma uma proposta para fazer shows em casas noturnas LGBTQIA+. Na época, eu me apresentava como drag queen pelo Brasil e não pensei muito antes de embarcar nesse sonho”, conta ela à Vogue.

Quando chegou em Londres, porém, descobriu que havia sido enganada pelos criminosos para fazer parte de um esquema de prostituição. “Eles pegaram meu passaporte e me coagiram para fazer o que quisessem. Eu não tinha para onde correr, esse direito da escolha me foi tirado. Esta é uma das cicatrizes mais dolorosas que trago no meu corpo”, lamenta.

Foram cerca de três meses vivendo num pesadelo até conseguir voltar para o Brasil. “A gangue roubou o pouco que tinha e me forçou a entrar em um avião de volta para Brasília apenas com a roupa do corpo. Estava apavorada, tudo que queria era sair dali. Mas eu sonhava em um dia dar a volta por cima com meu trabalho artístico. E consegui”, celebra.

Desde que escapou, a vida profissional de A Maia deu um salto. Já fez participações em produções hollywoodianas como “Mulher Maravilha”, apareceu em um videoclipe da cantora Fergie e atuou na peça “Roda Viva”, de Chico Buarque.

“Eu também desfilei para a grife Missoni e fui capa de revistas de moda, mas tive de correr atrás”, ressalta. “Recebi mais ‘não’ do que sim até pegar minha primeira campanha. Dois anos antes do meu primeiro contrato internacional eu me dividia entre três empregos em Milão. Quando consegui, não conseguia conter a alegria”, lembra.

Na dramaturgia, porém, A. Maia, prefere abrir mão de certos trabalhos para não reforçar estereótipos sobre pessoas trans. “Eu me recuso a interpretar a travesti barraqueira, a puta marginalizada, ou a que precisa esconder que é trans para se encaixar na sociedade”, admite. “Cresci vendo personagens caricatas na TV, com as quais nunca me identifiquei. Hoje, o cenário está mudando, mas a passos lentos”, afirma ela, que estreou na HBO com a série “Todxs”.

Agora, seu próximo projeto é desbravar o mundo da música. A Maia lançou, no início de agosto, o single e o clipe de “Pra Dá Dolce Bacana”, trazendo cenas de ostentação, mas com um olhar para a periferia, onde nasceu. “Lá, os meus e as minhas já estão cansados de ver e ouvir desgraça. Por isso, trago no clipe muita riqueza e beleza. Estou aqui para fortalecer o lugar de onde vim e dizer que é possível vencer”, conta.

O projeto seguinte de A Maia já está encaminhado. “Minha nova música chama ‘Se assuma’ e adianto que é uma balada”, finaliza.

 

do ClickPB

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