DENÚNCIA – Machismo, autoritarismo e falta de compromisso com a cultura dentro do Governo do Estado

By 2 de outubro de 2020Cultura, Lute como uma garota

Já falamos aqui a respeito de atitudes machistas e autoritárias de quem faz a gestão de cultura na Paraíba, e se o maior poder executivo do estado se omite diante dos fatos, ele se torna machista e autoritário também.

Nesta sexta-feira, 2 de setembro, Camila Geracelly, diretora do Núcleo do Memorial Aberlardo da Hora, vinculado à Fundação Espaço Cultural – Funesc, veio à publico para comunicar seu pedido de exoneração. Os motivos? Autoritarismo, falta de compromisso com a cultura do estado, e especialmente, o desrespeito com a obra de Aberlado da Hora, um dos maiores e mais renomados escultores do Brasil.

Em conversa exclusiva com o Paraíba Feminina, Camila relatou que ainda em 2019, assumiu a função com o objetivo de dirigir o Memorial, e que foi alertada desde o início sobre as dificuldades do próprio poder público em dar celeridade à finalização das demandas para abrir o espaço.

“Desde que entrei, existia uma pendência em relação ao transporte das obras. Um ano se passou e secretarias se comprometiam em liberar a contratação, depois deixavam a demanda de lado. Outra necessidade que surgiu pouco antes a pandemia, foi a contratação de uma empresa para produzir e instalar algumas estruturas para sustentação de obras suspensas”. De acordo com Camila, as obras pesavam mais de 200kg, e essa estrutura era necessária porque a construção do prédio não suportaria o peso, colocando em risco a integridade física das obras, dos visitantes e funcionários.

Até que dia 31 de agosto, o ex-governador Ricardo Coutinho, por meio de suas redes sociais, cobrou do poder público estadual a finalização do espaço e a exposição das obras.

Camila conta que, a partir desse fato, começou a ser responsabilizada e cobrada pela finalização do projeto. “Quiseram colocar em mim a responsabilidade sobre o atraso. Enquanto eu aguardava que as demandas administrativas fossem encaminhadas. Desde a saída e Nezia, comecei a sentir perseguições dentro a instituição, cheguei a colocar meu cargo a disposição”. Nézia Gomes foi presidente da Funesc por 5 anos, até deixar o cargo em junho de 2020. Em seu lugar, assumiu o jornalista Walter Galvão.

O fato é que após a postagem do ex governador Ricardo Coutinho, a atual administração da Funesc resolveu finalizar o Memorial, mesmo sem a montagem adequada das estruturas.

Por se colocar mais uma vez contrária à exposição sem as condições que as obras exigem, ela conta que foi novamente ameaçada de exoneração: “Ou você assina, ou eu assino a sua exoneração”, ainda de acordo com Camila, essa frase foi dita pelo próprio Walter Galvão.

“Essas palavras foram ditas de forma desrespeitosa. Sinto que minha expertise e qualificações não valeram de nada, porque sou jovem, sou mulher, e quem manda, manda, e só me restava obedecer”.

“Nunca trabalhei em nenhum lugar onde eu fosse desrespeitada. Não aceito falta de educação. Fui criada em um ambiente onde a mulher tem voz. E diante desse tipo de atitude, pedi pra sair”, disse Camila, sendo mais uma mulher a deixar os quadros do Governo do Estado por não permitir ser destratada e desrespeitada.

Memorial Abelardo da Hora

O patrimônio de arte deixado pelo escultor pernambucano Abelardo da Hora pertence à Paraíba desde 2018. O então governador Ricardo Coutinho assinou o Termo de Doação das obras do artista ao Estado. Para abrigar o acervo, avaliado em cerca de R$ 11 milhões, começou a ser construído o Memorial Abelardo da Hora, no Espaço Cultural José Lins do Rêgo, em João Pessoa, que até o momento, não foi concluído.

Abelardo da Hora, que morreu há 6 anos, foi escultor, pintor, desenhista e gravador. Ele é reconhecido como um dos mais importantes artistas brasileiros e deixou um acervo com quase 300 peças, entre esculturas, telas e outras obras.

Em resposta ao Paraíba Feminina, o presidente da Funesc Walter Galvão, por meio da assessoria de comunicação, lamentou o pedido de exoneração da especialista e garante “que durante várias reuniões de trabalho sempre assegurou a ela a última palavra sobre a data para exibição das obras. Jamais ocorreu qualquer pressão para que acontecesse algo com o qual ela não concordasse”.

Taty Valéria

 

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