Um homem manicure, a chuva de preconceito e a certeza que é preciso quebrar tabus

By 13 de outubro de 2020Brasil

O empresário Wallace Costa tinha 13 para 14 anos quando se ofereceu para fazer a unha de sua vizinha na favela Kelsons — uma das dezesseis que compõem o complexo da Maré, no subúrbio do Rio. O garoto finalizou tão surpreendentemente bem o trabalho que, na sequência, já o encaminharam para repetir a dose com a irmã da vizinha. Um mês depois, ele estava fazendo curso de manicure.

Mulheres que desempenham tão bem profissões ditas “masculinas” já não causam tão espanto, apesar de um ou outro comentário machista. Mas ainda não estamos tão acostumados a ver homens héteros atuando em funções femininas. Não, Wallace não é gay, mas poderia ser.

Segundo o dicionário Michaelis, “manicure” significa “mulher especializada no tratamento e embelezamento das unhas das mãos e dos pés; manicura”. Partindo dessa definição, como classificar a função de Wallace? Mais um dos progressos que a língua portuguesa não conseguiu acompanhar.

Wallace Costa

No início, os conhecidos do ‘manicuro’ acharam o interesse dele estranho. “Quando eu comecei a fazer o curso, foi sinistro. Mas logo todo mundo viu que não tinha nada a ver, que aquele pensamento [preconceituoso] é coisa de gente fraca da cabeça”, diz Wallace. Empreendedor, ele soube transformar o preconceito em marketing a favor. “Eu tô aqui para quebrar tabu!”, afirma ele.

Wallace iniciou os atendimentos de porta em porta, com uma maleta de mecânico. Com o crescimento do número de clientes, precisou usar a varanda da casa da mãe para dar conta da agenda lotada. Apesar do talento, o preconceito que enfrentou quase o fez desistir de tudo.

“Parei de fazer unhas em 2007, por causa do preconceito. Duvidaram da minha masculinidade e, por falta de apoio, fui trabalhar como assalariado. Minhas ex-clientes me pediam para voltar e eu decidi voltar. No emprego fixo, trabalhava até as 17h. Depois, atendia na varanda da minha mãe até as duas da madrugada. Saí de lá em 2008, quando aluguei um espaço, o mesmo em que hoje sou proprietário”, relembrou.

Doze anos depois, casado com Dalila Rubim, que administra o salão, e pai do pequeno Lorenzo, de 2 anos, Wallace viu seu empreendimento crescer. Com a ajuda das redes sociais, ele contabiliza 225 mil seguidores no perfil do Instagram. Todo esse sucesso cai no gosto no público que, segundo o Rei, vem de vários cantos do Rio. “A maioria (das clientes) é de fora da comunidade. Muitas vêm de Jacarepaguá, Barra da Tijuca, Belford Roxo, Nova Iguaçu e Niterói”, revelou Wallace.

Hoje ele é famoso, bem sucedido, tem uma lista imensa de clientes e tudo isso porque decidiu jogar o preconceito para o espaço. E você, o que já deixou de fazer por preconceito?

da redação, com informações do portal O Dia

 

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