Paraíba Feminina entrevista candidatas do segmento feminista: Sandra Marrocos

By 16 de outubro de 2020Politica

Nossa série de entrevistas com candidaturas feministas continua, e hoje vamos conhecer um pouco mais sobre Sandra Marrocos, candidata à reeleição para a Câmara Municipal de João Pessoa.

Sandra Marrocos

Sandra se apresenta como mulher negra e feminista. Assistente assistente social de formação, é mãe de Janaynna, Flávio e Gabriel. Vereadora no segundo mandato na cidade de João Pessoa, é presidenta da Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Defesa do/a Consumidor/a da Câmara Municipal de João Pessoa. No início da da trajetória de luta pelas causas sociais e emancipatórias, participou das pastorais da Igreja Católica e do movimento estudantil secundarista, no Liceu Paraibano, e universitário, na UFPB. Antes de se tonar vereadora, coordenou a ONG Feminista Centro Acorda Mulher no município de Bayeux, e apresentou à cidade de João Pessoa o Orçamento Democrático, enquanto primeira gestora de uma importante e necessária ferramenta de participação popular.

Depois da primeira legislatura, assumiu a presidência da FUNDAC, que ela entende como um verdadeiro aprendizado que ampliou sua compreensão sobre a implantação de políticas públicas de assistência social para crianças e adolescentes. Ainda se candidatou à deputada federal em 2018, quando obteve 22.854 votos distribuídos em 213 municípios de toda Paraíba, sendo 13.504 votos somente na cidade de João Pessoa. Embora não tenha sido eleita, considera a experiência bastante fortalecedora e que a fez perceber e reafirmar o poder da representatividade popular da mulher.

 

Por que você decidiu concorrer à uma vaga na Câmara Municipal?

A escolha pelo caminho do legislativo foi um processo natural em decorrência da minha longa trajetória e militância política dentro dos movimentos sociais e feministas. E ainda por entender a fundamental importância e necessidade de mulheres ocuparem espaços de poder e decisão.

 

Na sua opinião, qual a importância de ter uma mulher feminista ocupando um espaço de poder?

Mulheres feministas que assumem espaços de poder possuem uma postura crítica ativa e propositiva para a desconstrução do machismo e do patriarcado que estruturam a nossa sociedade, através da implementação de políticas públicas voltadas para o empoderamento e os direitos das mulheres. Dessa forma, muitas ações têm produzido resultados concretos em termos de inovações e conquistas legislativas para as mulheres.

Posso falar da minha própria atuação, pois as mulheres e as pautas feministas estão inseridas em todas as minhas ações. Sei que estou por todos e todas, mas estou principalmente pelas mulheres. Algo que temos que defender com todas as forças é o estado democrático de direito e a democracia, a partir daí, vamos para as principais pautas que defendemos: a cidadania das mulheres e o combate à violência contra a mulher.

Nós temos uma lei pioneira no país, que é a Lei Marielle Franco. A lei diz que todas as escolas públicas e privadas da cidade de João Pessoa deverão ensinar noções básicas da Lei Maria da Penha. É uma coisa nossa, do nosso mandato. Na minha avaliação, depois da Lei Maria da Penha, é a maior ferramenta de combate à violência contra a mulher, porque ela vai lá na raiz.

Então, acredito que a importância maior está nessa possibilidade real de transformação da sociedade através da atuação revolucionária de mulheres feministas em espaços de poder e de decisão.

 

Dentro da sua trajetória, quais as maiores dificuldades que você encontrou até se firmar candidata?

A principal dificuldade encontrada enquanto mulher feminista está relacionada sobretudo com a questão do machismo e do patriarcado, presente em todos os espaços da sociedade. Nos partidos políticos, por mais de esquerda que seja, você tem também tem essas questões muito presente, mesmo porque o machismo é estrutural e acaba perpassando por toda a estrutura da sociedade.

Essa é uma grande dificuldade para ocupar espaços de poder e decisão. Você tem que estar sempre além, cobrando de si mesma pois vai ser cobrada a todo instante. Dessa forma, penso que o enfrentamento e o combate ao machismo e ao patriarcado se coloca como a maior dificuldade para se tornar candidata, visto que o machismo é estrutural e também está presente em todas as instâncias partidárias, inclusive naquelas da esquerda.

 

As mulheres representam 52% do eleitorado no Brasil, mas só 15% das cadeiras legislativas municipais são ocupadas por mulheres. Como você analisa esse número?

Essa informação por si só já revela muitas das barreiras enfrentadas pelas mulheres para ocupar espaços políticos nas casas legislativas. A pequena representatividade feminina em espaços de poder está intimamente relacionada ao machismo estrutural da sociedade brasileira.

Foi apenas na década de 90 que foram implementadas as primeiras ações afirmativas para mulheres em eleições proporcionais. Mesmo com as graduais conquistas das ações afirmativas para mulheres nos últimos anos, este debate não se resume a questões tão pragmáticas quanto a formalização de leis. A garantia de participação em um regime democrático, que por definição deveria ser universal, foi apenas uma correção necessária fruto da atuação e luta de várias mulheres.

As barreiras não são só jurídicas. Quadros femininos na política brasileira ainda possuem uma forte relação umbilical com o patriarcado e figuras masculinas. Quando mulheres ocupam espaços de liderança há uma série de estereótipos machistas que desconstroem e fragilizam suas atuações – histéricas, loucas, descontroladas, briguentas – mesmo que seu temperamento, modo de falar e ações não difiram muita coisa de homens.

Uma vez que o espaço de liderança é conquistado, o processo de convencimento da população em processos eleitorais é outro abismo, não é raro escutar frases “lugar de mulher não é na política”, “não comanda nem uma cozinha”, “essa mulher é louca e descompensada”. No momento que a mulher progressista assume uma cadeira no legislativo ou executivo, as barreiras ainda não estão nem perto de acabar. A própria tramitação de pautas importantes para o direito das mulheres são alvos de muita resistência e distorções. Por exemplo, vejamos como o debate da igualdade de gênero foi distorcido pela extrema-direita.

Analisando o contexto municipal de João Pessoa, nos deparamos com dados extremamente preocupantes. Em toda a história da Câmara Municipal de João Pessoa somente dez mulheres foram eleitas vereadoras e ocuparam uma das cadeiras daquela casa. Isto é ainda mais chocante quando se  percebe que são exatamente as mulheres o maior percentual do eleitorado brasileiro, paraibano e pessoense.

Somos quatro mulheres na atual composição do legislativo municipal e apenas eu posiciono-me explicitamente em defesa das pautas feministas, emancipatórias e progressistas. A mensagem que quero passar com essa reflexão é que ser mulher e ainda estar na política é um desafio cotidiano. Nós precisamos ter sororidade para jamais fragilizar outras companheiras, pois a manutenção desses espaços arduamente conquistados deve ser sempre defendida.

 

Quais são suas principais bandeiras de luta e como pretende trazer essas pautas para o trabalho na Câmara Municipal?

As mulheres e a pauta feminista estão inseridas em todas as minhas ações. Sei que estou por todos e todas, mas estou principalmente pelas mulheres. Em mais de 20 anos de militância política em nossa cidade, forjada sempre na construção coletiva e participativa, luto em defesa da democracia e da justiça social, dos direitos humanos, da população negra e LGBTQI+, da nossa cultura e juventude, da pessoa com deficiência e de todas as pessoas que vivem em situação de pobreza, exclusões e demais vulnerabilidades sociais.

Na Câmara Municipal, pauto cotidianamente todas essas bandeiras sociais e emancipatórias, levando sempre para o debate e a discussão política através de minhas falas na tribuna ou com ações mais efetivas através de projetos de lei, projetos indicativos, requerimentos dos mais diversos, sessões especiais, projetos de emenda orçamentária e todas as ferramentas possíveis para a implementação de políticas públicas que visem o empoderamento e a emancipação das mulheres, a democracia e a justiça social.

 

Saiba mais sobre Sandra Marrocos no perfil @marrocossandra

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