“Jejum de Daniel”: como uma igreja agiu para blindar seus fiéis dos próprios escândalos

By 24 de dezembro de 2020Justiça

Você sabe o que é o “Jejum de Daniel”? Eu também não sabia, mas encontrei essa pérola no twitter e resolvi investigar. Se você, leitora/leitor acha que tem algo a ver com música sertaneja, achou errado. No site da Igreja Universal, o https://www.universal.org/, tá lá bem explicadinho.

Segundo consta publicado nesse link, o “Jejum de Daniel” é baseado no propósito descrito no capítulo 10 do livro de Daniel, na Bíblia. Por 21 dias, Daniel decidiu jejuar para buscar favor, sabedoria e entendimento da parte de Deus. “São 21 dias em que a gente se isola, se exclui de qualquer informação secular, esporte, divertimento, entretenimento, qualquer coisa que venha desfocar a nossa mente das coisas de Deus. É difícil, porque normalmente a pessoa quer estar bem informada. Mas, nestes 21 dias ela vai ficar mal informada das coisas que acontecem no mundo, e vai se informar apenas das coisas que acontecem no Reino de Deus”, esclarece o Edir Macedo (?) na publicação.

Mas se você pensa que eles não vão ter direito à consumir nenhum tipo de conteúdo digital, mais uma vez, pensou errado. O próprio texto traz dicas sensacionais: “conteúdo exclusivo da Univer Vídeo, plataforma que possui vídeos, desenhos, filmes e documentários destinados aos cristãos. Reuniões, ao vivo, diretamente do Templo de Salomão, e os blogs da Universal”, que obviamente, não postaremos aqui.

Então é isso mesmo que você entendeu: desde o dia 11, até o dia 21 de dezembro de 2020, os fiéis da Igreja Universal que decidirem cumprir o tal jejum, estarão impedidos de acessar quaisquer tipo de informação que não seja repassada pela própria igreja, tipo essa do link. Sim, eles não sabem que o prefeito do Rio de Janeiro e membro fundamental da Universal, o Marcelo Crivella, foi preso pela Operação Hades como chefe de uma organização criminosa e que ele recebia propina desde que era senador. Também não vão saber que outro bispo da Universal, o Eduardo Lopes, também foi preso; que o Mauro Macedo, primo de Crivella e também líder da igreja Universal, foi preso; e que a própria igreja estava sendo usada para lavar dinheiro.

Nesta quinta-feira (24), Crivella vai passar a noite de Natal em casa com sua família, E uma tornozeleira eletrônica. A foto usada na manchete é de 1990, quando Crivella foi preso por invasão e ameaça.

Não acredite em coincidências

Não acredite em coincidências porque elas não existem. Numa pesquisa realizada no site da igreja Universal, descobrimos que pela primeira vez nos últimos 10 anos, o Jejum de Daniel vai ocorrer em dezembro. Também descobrimos que essa também é a primeira vez que o jejum será de informações. De acordo com um fiel, que preferiu não se identificar, o jejum significa  fazer um “corte” de algumas coisas por um determinado tempo. “Você vai fazer jejum daquilo que você mais vai sentir falta, vai abdicar daquilo na sua vida durante o jejum. Algumas pessoas deixam de comer doce, outras deixam de assistir novela, ou acessar o Facebook”. De fato, são ações que podem sim purificar o corpo e a mente.

Porém dois fatos chamam a atenção estão interligados: o jejum pela primeira vez acontece em dezembro, e pela primeira vez prega a total falta de informação.

Se vocês bem lembram, durante a primeira fase da Operação Hades (março), Rafael Alves (citado em delações como o responsável por cobrar propina de empresários que queriam receber valores atrasados da prefeitura do Rio de Janeiro) foi preso pela Polícia Civil, que cumpria no mesmo momento, um mandado de busca e apreensão em sua casa. A polícia ouviu, então, um celular tocar em baixo de uma pilha de roupas. Do outro lado da linha, Marcello Crivella liga para avisar ao colega empresário que, naquele momento, acontecia uma operação policial. Quem atendeu foi o próprio delegado. A casa já tinha caído.

Tal qual uma grande organização com tentáculos em todos os espaços de poder, não seria surpresa que membros da igreja Universal tivessem acesso a informações privilegiadas. Quem sabe, poderiam ter descoberto que os desdobramentos da Operação Hades fosse acontecer em dezembro, e que nada mais conveniente do que provocar um jejum de imprensa justo no mês que um de seus maiores líderes fosse preso.  O fato concreto é que será a Universal a determinar a narrativa da prisão de Crivella.

Poderiam.

Quem sabe? O que sabemos é que essa lavagem cerebral coletiva fez surgir no Brasil o “kit gay”, a “mamadeira de piroca”, a “vacina que transforma as pessoas em jacaré”. O que explica em grande parte, porque estamos nesse esgoto sem fim.

 

Taty Valéria

 

 

 

 

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