Atualizada às 15h23
Você sofre violência e abuso dentro do casamento. Tem forças para terminar e tenta reconstruir a vida. O ex começa a te ameaçar e te chantagear. Mesmo pedindo ajuda à polícia, ele continua. Então, sozinha, você investiga o paradeiro dele, passa as informações paras as autoridades, ele finalmente é preso, e vai cumprir pena num presídio de outro estado. E quando tudo parecia terminado, esse homem, de dentro de um presídio, volta a te ameaçar de morte?
É o que está acontecendo neste momento com uma paraibana.
Na noite do último sábado (13), recebemos um apelo nas redes sociais sobre ameaças de morte que a vítima começou a receber do ex-marido, que cumpre pena no Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros – PJALLB, em Recife, Pernambuco. De posse de um celular, mesmo dentro da unidade prisional e usando um perfil fake no Instagram, Uillan Cássio da Silva fez diversas ameaças de morte à mulher, que reside no interior da Paraíba.
Depois da ação de uma rede de apoio que incluiu Brasília, João Pessoa e Campina Grande, a vítima foi levada ainda na madrugada do sábado para um local seguro e protegido, dentro da Rede de Proteção à Mulher. Foi feito um novo B.O por ameaça de descumprimento de medida protetiva. Pela mensagem abaixo, é possível ver que Uilan continua monitorando a vítima, de dentro do presídio.
De acordo com Maíra Araújo, titular da Delegacia da Mulher de Campina Grande, responsável pelo caso, a unidade irá encaminhar um ofício para a Vara de Execuções Penais de Pernambuco com o objetivo de que sejam tomadas as devidas providências. “Ele está dentro de uma unidade prisional, e não deveria ter acesso à celular. Além disso, existe uma medida protetiva. Esperamos que seja instaurando um procedimento administrativo no sentido de garantir que esse homem não tenha mais acesso à nenhum tipo de comunicação com a vítima”, afirmou.
Em contato com a assessoria da Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres), recebemos a seguinte nota:
A Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) informa que o detento encontra-se recolhido no Presídio Juiz Antonio Luiz Lins de Barros (Pjallb), no Complexo do Curado, na Região Metropolitana do Recife. A gerência da unidade prisional vai verificar a procedência da informação e, se confirmada, o celular será apreendido e o detento encaminhado ao Conselho Disciplinar da unidade. A Seres orienta a vítima a realizar a denúncia de ameaça na delegacia.
De acordo com a atualização da Secretaria Executiva de Ressocialização, o celular foi apreendido e o detento encaminhado ao Conselho de Disciplina da unidade.
Que os presídios não conseguem estabelecer um controle rigoroso sobre o uso de aparelhos celulares, não é novidade. Mas é revoltante que a violência contra as mulheres seja um ciclo sem fim.
Mesmo depois do sofrimento, das agressões, da coragem de terminar o relacionamento, de se disponibilizar a ajudar a polícia a localizar e prender seu agressor, uma mulher não consiga ter sua vida de volta. O machismo é algo pessoal, mas é institucional também. Quando o Estado, enquanto ente federativo, não consegue garantir segurança para as mulheres, além de se tornar conivente, ele se torna cúmplice dessa violência.
Taty Valéria