Vestuário apropriado em pleno 2021? Isso existe e pode ser aí onde você mora

É tanto absurdo que nem sabemos por onde começar.

Imagina você receber um e-mail com o seguinte título: “Solicitação de vestuário apropriado”. Poderia ser sobre a farda da empresa que você trabalha. Poderia ser o código de conduta de vestuário do Tribunal de Justiça. Poderia ser sobre as roupas que as madrinhas irão usar num casamento.

Mas não. A “Solicitação de vestuário apropriado” diz respeito à um condomínio, e tem a ver com, pasmem, o tamanho do “shortinho” de uma moradora.

O caso aconteceu com Najhara de Mello, 36 anos, que recebeu essa singela mensagem do “Conselho de Mulheres do Edifício (ela preferiu não divulgar o nome do condomínio, que fica na cidade de Sudoeste, no DF)”.

Quem escreveu o e-mail reclama do uso de “roupas de academia” e “shortinhos” pela estudante, pois casais estariam se sentindo “constrangidos”. Pausa para a gargalhada.

“Quando vi aquilo, eu não acreditei. Fiquei chocada e me sentindo invadida. Mesmo que eu andasse com roupas tão curtas, como foi sugerido, – coisa que, de fato, não ocorre – , é direito meu. Eu não desrespeito ninguém”, afirma.

Após receber a mensagem, a estudante procurou funcionários do prédio para saber se aquele era um comportamento comum. Ela ainda não conseguiu contato com o síndico, mas os porteiros desconhecem a existência de um conselho de mulheres no edifício. Pausa para chorar.

“O que mais me choca é a possibilidade de existir esse conselho e de ele ser formado por mulheres. Imagino a proporção que algo assim pode tomar, em termos de controle sobre o corpo alheio. São pessoas que não enxergam a mulher, mas um objeto”, diz.

Najhara mora no condomínio há um ano e quatro meses e nunca teve problemas de convivência com vizinhos. “Muito pelo contrário, a maioria dos moradores do prédio sai cedo para trabalhar e volta à noite, é um ambiente silencioso e tranquilo. Todos costumam ser cordiais e gentis”, relata.

Ela conta que costuma esbarrar com vizinhos principalmente de manhã cedo, quando sai para correr, ou na garagem do prédio, mas o contato não costuma ir além disso. “Foi a primeira vez que algo assim me aconteceu, já entrei em contato com um advogado para saber quais medidas posso tomar.”

Najhara afirmou estar estarrecida, principalmente porque sempre teve referências femininas fortes. “Eu venho de uma família de mulheres que sempre batalharam e se apoiaram. Meu pai era quem ficava em casa tomando conta da gente enquanto minha mãe caminhava oito quilômetros para pegar uma condução e trabalhar como empregada doméstica. Venho de um ambiente onde mulheres se orgulham do que são”, desabafa.

Para ela, a parte mais inacreditável do e-mail é a final. “Ainda me oferecem ajuda caso eu precise, estão à disposição para me dar conselhos de moda. Você se sente um bife. O bom é receber apoio de mulheres fantásticas, fortes e seguras, que estão do meu lado”, finaliza.

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