ONG dá lição em Bolsonaro e paga 14 parcelas de auxílio emergencial para salvar mulheres trans

Em meio ao caos instalado pela pandemia do novo coronavírus e a lentidão na vacinação em massa no Brasil, algumas populações que se encontravam marginalizadas foram atingidas de forma ainda mais grave. As mulheres trans e travestis, se encontram nesse recorte, e sofrem ainda mais diante do preconceito. Se a população, no geral, padece da demora no pagamento do auxílio emergencial do Governo Federal, imaginem as mulheres trans e travestis?

Mas algumas iniciativas surgem como um sopro de esperança. Em Belo Horizonte, a ONG Transvest, por meio de sua dirigente, a vereadora Duda Salabert, ofereceu auxílio financeiro, atendimento psicológico e cestas básicas para 148 mulheres trans e travestis.

De março de 2020 até março deste ano foram pagas 14 parcelas do auxílio, houve meses em que as mulheres e travestis receberam mais de uma parcela. Duda explica que a ideia surgiu com o crescimento da pandemia no país e a necessidade do isolamento social.

“Sabíamos que a realidade iria afetar consideravelmente travestis e trans do país, já que 90% delas estão na prostituição e fora do mercado formal de trabalho. Segundo a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) só 4% estão no mercado formal, então a gente precisava fazer uma ação para não morrerem de fome durante o isolamento social. Há ainda o agravante de que grande parte delas não tem renda e nem endereço devido às questões de vulnerabilidade social, e parte significativa não teria sequer acesso ao auxílio emergencial do governo federal”, explica.

No total, foram beneficiadas 132 travestis adultas e 16 travestis idosas. São consideradas idosas aquelas acima de 35 anos, idade que, segundo a União Nacional LGBT, é a expectativa de vida para mulheres trans e travestis no Brasil. Toda a verba foi obtida por meio de doações, além de uma quantia que a ONG já tinha em caixa e, antes da pandemia, seria utilizada para criar uma casa de acolhimento para essas mulheres.

Além do auxílio financeiro, Duda destaca que a ONG fez a doação de mais de 500 cestas básicas para essas mulheres e também ofertou atendimento psicológico gratuito, de maneira virtual.

Ashilley Fernandes Moraes Silva, de 25 anos, fala da importância de ter recebido o auxílio. “Transexuais infelizmente não conseguem emprego mesmo tendo cursado faculdade porque essa é a nossa realidade. É claro que R$ 100,00 não dá para fazer tudo, mas me ajudou bastante e fez uma diferença positiva na minha rotina”.

O projeto da renda mínima para mulheres trans e travestis foi finalizado neste mês de março de 2021, mas Duda afirma que outra ação será iniciada e as mulheres não ficarão desamparadas.

“Terminamos porque pretendemos alugar um espaço que seja transformado em local para geração de renda para a população trans, e também pedagógico. Vamos ter cursos de idiomas, cursinho pré-vestibular, educação para jovens adultos, teatro e queremos qualificar a mão de obra para que o espaço possa gerar renda. Elas poderão vender artesanatos e roupas criadas pelo projeto, por exemplo. Sabemos que com a pandemia o cenário de crise econômica se aprofunda e quem mais sofre é a população de extrema vulnerabilidade. Com o aumento do desemprego não vão contratar pessoas trans, então precisamos gerar essa renda e emprego”, explica.

Além de promover essa ação, durante a pandemia a Transvest continuou realizando ações no espaço prisional destinado a pessoas trans em Belo Horizonte, chamado de ala rosa. A ONG fez doações de tintas para que as detentas pudessem deixar o espaço mais humanizado e também entregou a elas doações de materiais de limpeza e higiene. A Transvest já atua nos espaços prisionais há cinco anos.

Duda também falou sobre a satisfação de poder contribuir de alguma forma com essas pessoas, mas destacou que o caminho a ser percorrido é longo. “Ficamos felizes por desempenharmos um papel de cidadania e ajudarmos o próximo, mas tristes porque esse papel deveria ser desempenhado pelo Estado e pelo poder público. Infelizmente, desempenhamos o papel de quem insiste em nos virar as costas, então urge a necessidade de criar políticas públicas para pessoas trans”.

do Uol

 

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