Os órfãos da pandemia! As histórias de quem perdeu a mãe pra covid-19 e foram amparados por outras mulheres

By 3 de maio de 2021Lute como uma garota

Maria Madalena tem 72 anos de idade e pede todo dia, em oração, para viver mais 15 anos. Há um motivo forte que a leva a querer prolongar a vida: ver os dois netos de 11 anos terminarem a faculdade, conseguindo assim realizar o sonho da filha Marina*. A médica de 44 anos foi uma das vítimas da segunda onda de Covid-19 em Manaus, entre janeiro e fevereiro deste ano. “Se eu conseguir botar os meninos na universidade, já irei em paz. Só peço a Deus mais uns anos porque preciso realizar isso para ela”, conta a aposentada.

Thainá Rodrigues, de 22 anos, está em Macaúba, interior de São Paulo, lidando com um cenário parecido: ela e a mãe assumiram a responsabilidade de ajudar o irmão Diego Rodrigues, 24 anos,  a criar dois sobrinhos recém nascidos e gêmeos, após a morte da cunhada por coronavírus.

Ao longo da pandemia, que já matou quase 400 mil brasileiros, a história de mulheres que passaram a criar filhos de outras se repete em famílias brasileiras. Com o falecimento das mães, coube às avós, tias e primas a tarefa de cuidar ou de ajudar indiretamente na educação de quem ficou, numa terceirização forçada da maternidade. Uma realidade que ainda carece de dados, pois não há ainda registros sobre os números de órfãos da pandemia, mas que já pode ser notada em todas as partes do país.

E quando as perdas acontecem, são as mulheres que se posicionam para assumir o cuidado. Afinal, na sociedade em que vivemos, as atividades de cuidado são atribuições em geral ligadas ao gênero feminino, como lembra a professora da Universidade Estadual do Oeste da Bahia e líder do grupo Observatório de Mulheres Negras, Nubia Moreira.

Outro ponto que faz com que mulheres criem filhos de outras está ligado a própria sororidade entre o gênero. A educadora explica que para dar conta de tantas demandas mulheres acabam criando “redes de apoio”.  “Isso acontece muito nas classes populares, não é? Especialmente com as mulheres negras. Quando uma sai para trabalhar logo aparece uma tia, vizinha ou irmã para cuidar da criança”. As histórias da reportagem, mostram que agora, quando uma se vai, logo aparece outra mulher para cuidar da criança.

Mesmo quando o pai das crianças segue vivo, muitas vezes os cuidados acabam ficando por conta de outras mulheres. “A gente vê pais conscientes do papel da paternidade, mas a realidade ainda não é essa. A gente vê que quem ocupa esse espaço de cuidar é uma outra mulher. São elas que assumem esse papel de mãe”, relata a médica que atua em um hospital da rede particular de Manaus, Narjara Boechat, que tem observado no seu dia a dia o surgimento destes novos arranjos familiares.

Enquanto faltam dados sobre o número de órfãos deixados pela pandemia, dona Maria Madalena é parte de uma estatística monitorada: foram 960 grávidas ou puérperas mortas pela Covid-19. Em 2021 houve um aumento de 145% nessas mortes, de acordo com o Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 (OOBr Covid-19).

 

matéria especial do portal AzMina

 

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