Menstruação sem Receio: conheça o projeto que combate a pobreza menstrual em Campina Grande

Com menos de R$ 5 é possível comprar um pacote de absorventes em farmácias, perfumarias e supermercados. O valor, simbólico para parte da população, foi o suficiente para que 28% das mulheres e meninas brasileiras deixassem de ir à aula por não conseguirem comprar o item de higiene menstrual.

Destas, 48% dizem que tentaram esconder o real motivo pelo qual faltaram à escola e 45% acreditam que sua ausência impactou negativamente seu desempenho escolar.

Em Campina Grande, um projeto independente tem trabalhado para tentar diminuir os efeitos da pobreza menstrual em mulheres e meninas que vivem em situação de vulnerabilidade social. O “Menstruação Sem Receio”, que nasceu de um lugar de empatia, cuidado e amor.

De acordo com Talita Lucena, idealizadora da ação, o objetivo principal é levar o mínimo de dignidade para essas mulheres. Advogada, professora universitária, com especialidade em Direito Público, Familiar e direito das mulheres, Talita também é fundadora do Instituto da Mulher Paraíba.

“Essa mulheres vivem em situação de extrema vulnerabilidade social, precisando improvisar um item que substitua o absorvente, esses itens vão desde restos plásticos, papéis usados, até miolo de pão, sendo um verdadeiro caso de saúde pública”, afirma.

Iniciado no início de 2021, o Menstruação Sem Receio, que arrecada doações em absorventes ou dinheiro, já atendeu cerca de mil mulheres e meninas da região de Campina Grande, entre 17 e 50 anos que vivem em situação de rua e na zona rural. O projeto conta atualmente com 40 voluntárias, que trabalham na arrecadação, organização e distribuição dos absorventes.

Para Talita Lucena, o impacto social da pobreza menstrual atinge vários níveis. ” 1 a cada quatro meninas faltam aula porque não tem absorvente, e isso já gera um déficit educacional enorme. Muitas mulheres quando estão em seu ciclo, deixam de trabalhar e buscar sua renda pois se sentem constrangidas em não poder sair pra trabalhar porque não têm absorvente. Fora a questão da saúde pública”.

“Se 29% das mulheres não tem acesso a absorvente, isso dá aproximadamente 10 milhões de mulheres que precisam improvisar, isso atinge diretamente a saúde dessa mulher. É um impacto não só na saúde física, a saúde mental também é atingida”, diz Talita.

Sendo um item de necessidade básica e de uso constante, porque tantas mulheres não têm acesso aos absorventes? Talita explica. “Os absorventes são tributados como artigos de luxo, como se fosse um cosmético, o que aumenta o preço e o torna ainda mais inacessível”.

“Existe um princípio no nosso ordenamento jurídico que fala da dignidade humana, da ideia de garantir o mínimo para que a pessoa viva com dignidade. As legislações e o poder público precisa estar intimamente ligado nesse processo e na garantia desse direito. Os absorventes deveriam ser doados pelo poder público à mulheres em vulnerabilidade social, assim como são os preservativos e anticoncepcionais.”

“Nossa Constituição afirma que a saúde é um direito de todos e um dever do estado. A saúde menstrual e a dignidade menstrual é um direito das mulheres, mas infelizmente, a menstruação ainda é um tabu, e isso acaba passando despercebido e as mulheres que vivem em situação de pobreza menstrual têm sua dor silenciada.”, afirma a advogada.

Sendo uma questão biológica e constante, o auxílio à essas mulheres precisam ser feitas de modo permanente. Para ajudar no projeto, você pode fazer sua doação de absorventes, ou transferência bancária. Para se tornar voluntária do projeto, acesse o link https://linktr.ee/institutodamulherpb, e veja como ajudar.

Siga o Instagram da @institutodamulherpb/ e faça parte dessa causa!

*todas as imagens foram autorizadas

Outras inciativas na Paraíba

O projeto de Lei 1.436/2019, de autoria da deputada estadual Estela Bezerra e denominado “Menstruação Sem Tabu”, aborda justamente as questões mais delicadas apontadas na pesquisa: distribuição de absorvente para meninas e mulheres em situação de vulnerabilidade social, inclusão dos absorventes nos produtos da cesta básica e a realização de palestras nas escolas da rede pública e a confecção e distribuição de cartilhas explicativas. Mesmo aprovado por unanimidade na Assembleia Legislativa da Paraíba, o projeto foi vetado pelo governador. O projeto foi enviado de volta à ALPB e aguarda nova tramitação.

Em Campina Grande, tramita na Câmara Municipal o Projeto de Lei que Institui o Programa Municipal de Enfrentamento a Pobreza Menstrual – PMEPOM. O projeto em linhas gerais visa instituir o fornecimento gratuito de absorventes higiênicos para estudantes das escolas da rede pública municipal, em situação de vulnerabilidade social e econômica, bem como para mulheres em situação de rua e que não possuem condições financeiras para compra de itens de higiene pessoal.

Também em Campina Grande, o Projeto Lótus é uma rede de apoio a mulheres, que tem o objetivo do projeto é formar uma rede de apoio e disponibilizar conteúdos informativos confiáveis para mulheres. O grupo está com uma ação voltada diretamente ao combate a pobreza menstrual na cidade para angariar produtos de higiene pessoal para mulheres sob vulnerabilidade socioeconômica.

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