A volta do Talibã: quem irá proteger as meninas e mulheres afegãs?

By 16 de agosto de 2021Especiais, Justiça

Vamos falar um pouco de história:

Era manhã de 11 de setembro de 2001 e o programa de Ana Maria Braga foi interrompido pelas imagens, ao vivo, do ataque terrorista no World Trade Center, em Nova York.

Os dias se seguiram com um mundo estarrecido. O desenrolar daqueles dias foi trazendo informações sobre um país que pouco nós tínhamos ouvido falar: Afeganistão. “Conhecemos” o Osama Bin Laden, a Al Qaeda (que assumiu a autoria dos ataques), e o temido e famigerado Talibã, grupo extremista surgido há quase 30 anos que governou o Afeganistão de 1996 até a invasão estadunidense, em 2001.  O governo de Bush acusava o Talibã de “parceria” com a Al Qaeda (rede do radicalismo islâmico responsável por atentados terroristas a nível internacional). A narrativa era simples: o líder da Al Qaeda era o próprio Bin Laden, e o Talibã estaria dando abrigo ao terrorista.

Diante desse angu cheio de caroços, o governo dos EUA invadiram o Afeganistão com dois objetivos muito bem direcionados: capturar Bin Laden, e reestabelecer a democracia no país.

De fato, a vida no Afeganistão era um inferno para qualquer cidadão que não fizesse parte do Talibã. Para mulheres e meninas, o inferno era ainda mais quente.

Quando os talibãs tomaram o Afeganistão em 1996, as mulheres foram obrigadas a deixar de trabalhar, estudar e tinham que ficar confinadas em casa. Era obrigatório, ainda, que vestissem apenas a burca — uma mortalha que só deixa os olhos à mostra. Elas não estavam autorizadas a sair de casa sem a companhia de um homem da família.

Elas não podiam frequentar médicos, o que foi se tornando cada vez mais grave uma vez que as mulheres não podiam mais estudar e portanto, se tornarem médicas.

Se a burca deixasse o tornozelo à mostra, as mulheres eram açoitadas no meio da rua por um membro autorizado do Talibã.

Sexo antes do casamento? Apedrejamento em praça pública.

Não podiam gargalhar, nem andar fazendo barulho. Não podiam praticar qualquer esporte, nem andar de bicicleta.

Não podiam aparecer na varanda de sua própria casa.

Não podiam usar calça (mesmo por baixo da burca), não podiam aparecer em fotografias ou filmagens. Qualquer tipo de publicidade com imagens de mulheres era proibido.

As mulheres também não podem ouvir música, assistir filmes ou comemorar a chegada do Ano Novo.

Uma mulher viúva não poderia trabalhar para sustentar os filhos e o único destino possível era viver de esmolas.

Os Estados Unidos invadiram o Afeganistão, o mundo tomou conhecimento do que acontecia com as mulheres e meninas, e algumas coisas tinham melhorado.

As mulheres entraram no mercado de trabalho – sobretudo, nas zonas urbanas – e ocupavam 25% das cadeiras do Parlamento. A burca que cobria todo o corpo, incluindo o rosto, deu lugar ao véu. Por outro lado, os casos de estupros, violência doméstica e feminicídios continuaram altíssimos. Casamentos forçados de meninas adolescentes, também.

Os 5 anos de domínio Talibã mergulharam o Afeganistão num obscurantismo tão profundo que era de se esperar que as mudanças fossem lentas e graduais.

Passados 20 anos da invasão estadunidense, o que se viu é que o Talibã nunca desapareceu de fato. BIn Laden só foi capturado e assassinado em 2011, e em solo paquistanês. O que a presença dos EUA trouxe de efetivo para o Afeganistão? Agora que as tropas se retiraram, de forma quase vergonhosa, o Afeganistão mergulhou novamente num período de trevas.

E milhares de meninas e mulheres estão apenas contando as horas até serem levadas de volta ao inferno.

 

Taty Valéria

 

 

 

Leave a Reply

%d blogueiros gostam disto: