Cantora Liriel Costa lança clip ‘Tu pensa’ e aposta em uma João Pessoa vintage para discutir o esquerdomacho

matéria produzida por Wagner Lima, especial para o Paraíba Feminina

Em relações afetivas tem sido comum a queixa das mulheres, especialmente, nas redes sociais dos comportamentos dos homens no exercício da afetividade, que impacta na relação e no curso próprio do encontro a dois. Mas, não só. Impacta também na relação com filhos, a família em geral e amigos. No entanto, o clipe que a cantora e atriz paraibana Liriel Costa lançou, neste final de semana, se debruça sobre as agruras do amor romântico ao dar voz a canção ‘Tu pensa’ do compositor Felippe Francis. A faixa integra o projeto ‘Feat Francis’ e ganhou lançamento neste sábado (21/08) com o videoclipe no Youtube. (assista no final da matéria)

A pegada da música transita entre o xote e o reggae e embora escrita por um homem, ‘Tu pensa’ aponta dos desencontros entre uma mulher e o seu objeto de desejo afetivo. Entre as contribuições na faixa merece destaque a participação da cantora, compositora e multi-instrumentista Lucy Alves, que toca baixo.

Com um ar vintage, inclusive, no clipe há uso de objetos antigos e efeitos de imagens que remetem à captações antigas de vídeos, com passagens por vários cenários bucólicos e ao mesmo tempo românticos da João Pessoa contemporânea, muito usada por jovens para encontros ou namoros, a exemplo da Casa da Pólvora, ruas do Centro Histórico, o Jardim Botânico, o calçadão da praia do Cabo Branco.

Liriel Costa explica que a ideia do clipe era discutir o imediatismo nas relações e o descompasso dos anseios de homens e mulheres quando começam a se relacionar, em especial, quando há um esquerdomacho na “parada”. O termo esquerdomacho faz referência a um segmento de homens do espectro de esquerda que usa as redes para combater os mais variados tipos de opressão, e no entanto, não faz isso com a própria forma de tratar as mulheres com o machismo que os demais homens fazem, mas sem se valer do conservadorismo como discurso.

“O clipe de ‘Tu Pensa’ é um trabalho muito especial. Na minha visão, não apenas o clipe, mas a própria música sugere, de maneira bem humorada, uma crítica ao imediatismo que atinge as relações sociais atuais”, disse. Uma das diretoras do clip, Maria Clara, que divide essa condução com Sara Ellen, reforça a ideia. “A narrativa é um encontro entre Liriel, a cantora, e um garoto que é o estereótipo de “esquerdomacho”. Acompanhamos no clipe os lugares pelos quais eles passam, as tentativas falhas do garoto de tentar impressionar Liriel, sempre com piadas zombando do estereótipo de garoto desconstruído. Alternando entre essas cenas, temos trechos de Liriel cantando em um mundo onírico, que se passa na mente da personagem principal”, acrescentou.

Liriel reforçou que, essa crítica embora seja muito relacionada ao amor romântico, não se encerra em si, mas aos afetos de modo geral. “Eu acredito que a velocidade da vida contemporânea não é compatível com a velocidade do afeto. O prazer, assim como o amor, é algo que predispõe tempo. Quando a gente busca apressar esse processo sentimental, terminamos atingindo apenas o superficial. ‘A pressa prega peça no amor’ é um verso da música que define bem essa ideia trabalhada no clipe”, aponta.

Referências musicais

Liriel Costa começou como muitas cantoras a exercitar o canto em grupos musicais na igreja. Antes de se profissionalizar, aos 15 anos ingressou no curso técnico de Instrumento Musical do IFPB. Durante os estudos musicais montou com alguns colegas de sala o primeiro grupo musical intitulado ‘Vento Bravo’. No grupo, Liriel pode desenvolver a compreensão sobre repertório e exercitar-se como intérprete.

As referências musicais passam por Elis Regina e Gal Gosta, Mônica Salmaso. Para os desavisados, Duda Beat também é uma referência musical e no clipe de ‘Tu pensa’ essa referência aparece na estética assumida sem nenhum tipo de constrangimento. Essas referências estão na estética vintage, nas maquiagens que se sobressaem com tons mais claros.

No entanto, há outras referências que embora estejam em Duda Beat perpassam o universo feminino desde Marilyn Monroe no cinema até Marisa Monte e Duda Bet na música brasileira. “Da cena musical mais jovem, me identifico e me inspiro bastante no trabalho da Duda Beat. Acredito muito que a MPB se renova cada dia mais e que os grandes e novos nomes devem se comunicar de maneira direta e única”, revela.

O projeto do clipe ‘Tu pensa’ também dá enfoque ao tom irônico e de rejeição da mulher diante de comportamentos do homem apontado como corrosivo, pouco afetivo e indiferente e as referências vão de Duda Beat aos memes da internet ao mostrar o homem recitando poesia de Charles Bukowski. “O projeto também aborda a discussão da superficialidade, principalmente, na figura do homem do encontro que tenta transparecer que é um ser desconstruído e intelectual, mas que, na verdade, não é nada disso.”

‘Mulheres vão se identificar’, aposta cantora

‘Tu pensa’ manda recados diretos do início ao fim sobre o tipo de abordagem e relações que as mulheres não querem, mas, sobretudo, não aceitam mais. “Aposto que muitas meninas e mulheres vão se identificar com essa relação superficial citada na composição e no clipe. Por isso, é tão importante que mais mulheres produzam e façam essas conexões artísticas, pois devemos produzir algo que todas nós possamos nos identificar e assim, alcançar mais espaços”, finalizou.

Liriel não só critica essa postura de muitos homens, mas da própria estrutura social que possibilita os mecanismos de opressão às mulheres e arte surge como uma das formas de mobilizar, conscientizar e gerar identificação. “A voz da mulher na sociedade é sempre questionada. Nossos direitos nunca são nossos de verdade, pois constantemente são colocados à prova em diversas situações do dia a dia. Eu, como mulher, artista independente e cantatriz, vejo que mesmo com tantas interrogações em nossos caminhos, não podemos parar. Temos uma voz, temos uma arte que faz sentido e produz sentimento”.

Visão da direção

A diretora Maria Clara reforça que a ideia dela e de Sara Ellen não era de resgatar, mas reafirmar uma João Pessoa “possível” a partir desses encontros afetivos. “A gente queria trazer uma visão mais romântica da cidade. Sara e eu temos um gosto bem parecido. Nós gostamos dessa estética vintage e queríamos trazer isso pra João Pessoa porque dificilmente vemos a cidade sendo coloca sob essa ótica. A ideia era algo que chamasse a atenção pelo cuidado com a estética, que também é um pouco inspirado em imagens do Tumblr e Pinterest. A intenção era fugir um pouco da realidade com uma versão bem idealizada de João Pessoa”, finaliza.

Assista!

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