foto: Lucas Figueredo/CBF |
As vencedoras da Copa do Mundo Feminina em 7 de julho levarão para casa mais do que apenas um troféu — também há um prêmio em dinheiro de US$ 4 milhões [R$ 15,4 milhões na atual cotação], mais que o dobro do que a equipe feminina dos Estados Unidos recebeu na Copa do Mundo anterior, em 2015.
Compare isso com o que o vencedor da Copa do Mundo masculina embolsou em 2018, no entanto: a equipe francesa ganhou US$ 38 milhões [R$ 146,5 milhões na cotação atual] pela vitória.
Conforme o jogo começa na Copa do Mundo Feminina, muita atenção está sendo focada na enorme diferença de gêneros entre os dois torneios. Não são apenas os vencedores que são desproporcionalmente mal pagos — são todos os times e jogadores e até seus clubes profissionais.
A FIFA destinou US$ 30 milhões [R$ 115 milhões] para o torneio feminino deste ano, enquanto o masculino totalizou US$ 400 milhões [R$ 1,5 bilhão] em 2018. Além disso, a FIFA dá às equipes masculinas US$ 48 milhões [R$ 185 milhões] em custos de preparação e distribui outros US$ 209 milhões [R$ 805 milhões] para os times que liberam seus jogadores para participarem do torneio. As mulheres recebem US$ 11,5 milhões [R$ 44 milhões] para custos de preparação e US$ 8,4 milhões [R$ 32 milhões] na compensação aos clubes.
Em abril, a equipe nacional feminina australiana, a Matildas, ameaçou entrar com uma ação na justiça caso o desequilíbrio salarial não fosse corrigido, citando os próprios estatutos da FIFA, que consagraram um compromisso com a “igualdade de gênero”.
Diferença salarial entre homens e mulheres em todos os níveis
A FIFA defende o desequilíbrio salarial com a alegação usual de que reflete a diferença de receita produzida pelos torneios masculino e feminino. Como o presidente da FIFA, Gianni Infantino, disse de maneira tão deselegante no ano passado: “Talvez um dia o futebol feminino gere mais receita do que o futebol masculino”.
A FIFA, no entanto, não é a única culpada quando se trata de realizar disparidades financeiras no futebol (ou em outros esportes). As jogadoras de futebol feminino também apontam diferenças de pagamento tanto no nível dos clubes, quanto nas federações de muitos países.
A melhor jogadora do mundo, a norueguesa Ada Hegerberg, nem vai competir na Copa do Mundo deste ano por conta de uma disputa com sua federação nacional sobre o investimento e o tratamento do futebol feminino. A Federação Norueguesa prometeu alcançar a paridade de pagamento entre gêneros há dois anos, mas Hegerberg afirma que mais ações precisam ser feitas.
E, apesar dos aumentos significativos nos salários das mulheres nos últimos anos, também há enormes desigualdades. Em 2017, a Forbes publicou uma comparação chocante que mostrou que o atacante brasileiro Neymar ganhou mais dinheiro (US$ 43,8 milhões por ano, R$ 170 milhões) de seu clube, o Paris Saint Germain, do que os salários combinados de todas as mulheres nas sete principais ligas femininas (D1 Féminine, Frauen Bundesliga, Superliga Feminina da FA, Liga Nacional de Futebol Feminino, Damallsvenskan, W-League e Liga MX Femenil).
Questões de desigualdade de gênero mais amplas
A questão salarial é apenas uma das muitas injustiças enfrentadas pelas jogadoras de futebol feminino. Por exemplo, as mulheres rotineiramente jogam em condições mais difíceis do que os homens. Na Copa do Mundo Feminina de 2015, no Canadá, as esportistas foram forçadas a competir em grama artificial, em vez de natural —, que muitas culparam por uma série de lesões. Na Copa do Mundo, as mulheres também costumam ter menos dias de folga entre os jogos, ficar em acomodações menos adaptadas e viajar em classe econômica.
Muitas mulheres também observam que a FIFA e suas federações nacionais não fizeram o suficiente para promover o futebol feminino em todo o mundo. Um exemplo claro disso é o fato de a FIFA ter agendado a final da Copa do Mundo Feminina deste ano no mesmo dia das finais de outros dois torneios masculinos — a Copa Ouro e a Copa América.
Enquanto muitos obstáculos permanecem, o sucesso que as jogadoras de futebol feminino tiveram ao desafiar o status quo inspirou atletas de outras modalidades a também lutarem por seus direitos. No início deste ano, 200 das melhores jogadoras de hóquei no gelo do mundo prometeram não jogar em nenhuma liga profissional da América do Norte nesta temporada até receberem um salário digno e um seguro de saúde.
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