Bolsonaro ataca novamente os pobres ao defender o trabalho infantil e achar tudo normal

By 5 de julho de 2019Brasil
isso é pra causar vergonha, e não orgulho

Em transmissão ao vivo na noite desta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro defendeu o trabalho infantil e usou o próprio exemplo para dizer que “não foi prejudicado em nada” por ter colhido milho aos “nove, dez anos de idade” em uma fazenda de São Paulo. Aos seus seguidores no Facebook, ele declarou ainda que “o trabalho dignifica o homem e a mulher, não interessa a idade”, mas alertou que não apresentaria nenhum projeto de lei para descriminalizar a prática por saber que “seria massacrado”.

Vamos deixar de lado a parte de que ele não foi prejudicado por isso. Primeiro porque é óbvio que ele tem problemas de concentração, oratória, entendimento, persuasão, análise de conjuntura, liderança, planejamento e foco. Ele também possui uma grave falta de empatia com a população mais pobre e vulnerável desse país, mas nada disso tem a ver com o fato dele ter trabalhado quando era criança.
Vamos nos ater ao fato de um presidente usar seus canais oficiais para engrandecer uma prática considerada desumana. Sim, porque crianças não devem trabalhar. Crianças devem estudar, brincar, aprender. Mas nós vivemos num país onde crianças trabalham, às vezes em regime de escravidão, e não há nada digno nisso.

Conversando com meu pai certa vez, ele me falou que vendia Bombril na feira quando era criança. Ele dava uma parte desse dinheiro aos meus avós e o que sobrava usava para ir ao cinema e comprar doces. Ele se orgulha disso. Eu perguntei se ele permitiria que o mesmo acontecesse com os filhos e netos, e ele disse que jamais. Meu irmão vendia din-din aos domingos, durante a pelada dos adultos. Ele usava o dinheiro só pra ele, o que era justo. Mas nós não precisávamos daquilo. Meus pais não precisavam do dinheiro do din-din.

Uma coisa que o presidente não percebe é que esse tipo de discurso não agrega nenhum tipo de benefício dentro do contexto de aumento de miséria que vivemos agora. O que ele tenta dizer é que não tem problema nenhum em ver tanta criança vendendo bala nos semáforos. Que não tem problema nenhum deixar de ir pra escola pra trabalhar e botar comida em casa.

Mas tem problema sim.
Isso perpetua a pobreza e a ignorância. Não existe caminho para sair da pobreza a não ser pela educação.

Tem gente que ficou milionária e começou vendendo din-din, ou Bombril na feira? Provavelmente tem, mas são a exceção, e não a regra. E é preciso trabalhar com a regra.

Taty Valéria

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