Leonardo e Carles com a filha, Claudia |
Claudia tem apenas onze meses de vida, mas já mudou completamente a rotina de seus pais, o ator Leonardo de Castro, 32, e o diretor de arte Carles Arqué, 37. Ela chegou à família há pouco mais de dois meses, tempo suficiente para que o casal se confrontasse com uma série de perguntas inconvenientes.
Leonardo lembra que, logo no chá de fraldas, ouviu de um tio a pergunta sobre quem faria o papel de mãe na vida da criança. “Respondi que na nossa casa tem dois pais, não tem mãe. Ninguém faz papel de mãe, cuidamos, educamos com todo o nosso amor”, relata ele.
Ele sabe que a criança também terá que responder as mesmas perguntas no futuro e pretende prepará-la para lidar com a situação. “Minha filha vai saber o verdadeiro valor da família para defendê-la com tranquilidade. O simples fato de nossa família existir já é uma maneira de responder ao preconceito”, afirma.
As novas configurações familiares podem trazer feridas físicas ou emocionais aos protagonistas dessas mudanças, de acordo com a psicóloga especialista em sexualidade e desenvolvimento emocional, Simone Januário.
“O entendimento sobre o conceito de família mudou muito nas últimas décadas. Não há ordem hierárquica ou de orientação sexual, a única coisa que se mantém é o cuidado”, explica.
A especialista diz que o primeiro desafio dos pais é entrar em contato com a realidade dos filhos, superar idealizações e evitar antecipar respostas a perguntas que ainda não foram feitas. Tudo a seu tempo.
“Quando houver situações de olhares ou comentários de terceiros, é preciso conversar com a criança em casa, como se ela se sentiu com aquilo, que resposta ela deu, como poderia ter respondido e entender como lida com essas questões”, diz Simone.
Este Dia dos Pais também será o primeiro para o jornalista Eduardo Domingos, 30, e seu companheiro Tales, 36. Após um processo de adoção que durou quase dois anos, eles se tornaram pais da pequena Melissa, de cinco meses. Mesmo com tão pouco tempo, Eduardo já percebeu o tratamento diferente por parte de outras pessoas, mesmo que a intenção não seja a de ofender.
“Perto de nós, algumas mulheres, involuntariamente, têm uma postura de cuidado com a Melissa, querendo ser as mães dela. Algumas pessoas da nossa família chegavam a falar ‘vem com a mamãe’, mas a gente já repreendia, porque elas não são. Minha filha tem dois pais e vamos explicar para ela quando crescer”, diz Eduardo.
Além de “Quem é a mãe?”, pais gays listam outras perguntas que incomodam.
O presidente da Aliança Nacional LGBTI, Toni Reis, 55, e seu marido David Harrad, 61 têm três filhos, Alisson, 18, Jéssica, 16, e Filipe, 13. Desde muito cedo, as crianças já foram alvo de diversas perguntas maldosas. “As pessoas perguntavam para eles quem era a mãe, como é a nossa relação, se ficávamos nos beijando na frente deles, se já tínhamos estuprado eles ou se tentávamos ensiná-los a serem gays”, lembra Toni.
Paulo Massaro e Adriano Fígaro com Ramon |
Toni sempre preferiu explicar as diferenças aos próprios filhos e prepará-los para lidar com essas situações, nunca chamou atenção ou precisou processar ninguém. “É constrangedor, mas eles sempre respondem que são criados por dois homens, são dois pais e que cada um exerce a sua paternidade de forma tranquila. Cada um com um papel”, comenta.
O gerente comercial Paulo Massaro, 35, é pai de Ramon. “Um príncipe de 1 ano e dez meses”, derrete-se. Ele afirma que nunca ouviu ofensas explícitas, mas que já se sentiu constrangido por olhares e comentários reprovadores em lugares públicos.
“[Olham] como se dois homens não fossem capazes de educar uma criança. Imagino que um pai heterossexual, sozinho andando com um filho também passe por isso. É como se a mãe fosse o único pilar e a única pessoa capaz de cuidar de uma criança”, afirma.
Paulo também considera que perguntas pessoais e, muitas vezes, inconvenientes, sobre a geração, adoção ou criação do filho são mais frequentes quando se trata de dois homens.
De acordo com Simone, as áreas da psicologia têm revisto a organização familiar, inclusive com base na preocupação externada pela sociedade de a criança ser criada sem a presença da mãe ou do pai.
“Esse triângulo não precisa ser formado por um homem, uma mulher e uma criança. Pode ser feito por pessoas que desempenhem papéis dentro dessa tríade. A criança precisa aprender a suportar algumas coisas e os pais vão ajudar nesse contexto”, indica.
Independentemente da configuração familiar, a criança precisa se sentir segura, cuidada, com vínculos e com afeto. A especialista complementa dizendo que não existem estudos que provem que filhos de famílias homossexuais têm mais tendência a adoecer emocionalmente. “As relações afetivas saudáveis é que vão produzir uma criança saudável com suas emoções.”
do site Universa