Jovem espancada e morta no meio da rua expõe a “sociedade do espetáculo” em que filmar é melhor que salvar vida

By 14 de agosto de 2019Brasil
ilustração: Ana Matsusaki

Uma jovem de 19 anos foi morta pela filha do homem com quem ela estava saindo na cidade de Manaus. Francisca Amorim Queiroz saia do salão de beleza no dia do próprio aniversário quando foi abordada por outra jovem de 19 anos, filha de um homem de quem ela era amante.

As duas trocaram agressões no meio da rua enquanto a população ao redor assistia e filmava a confusão. Em certo momento, Francisca bate a cabeça no chão. Quando a briga é separada, ela cambaleia e cai. Francisca foi socorrida, mas morreu no hospital.

Uma das atribuições mais pesadas de um jornalista é não se deixar abater pelas notícias que se propõe a publicar e ao mesmo tempo, não perder a humanidade e tentar, de alguma forma, que a informação passe também alguma mensagem que ajude a construir um mundo menos injusto. Tentando manter o profissionalismo e buscando passar a informação, dentro das limitações de apuração, vamos dividir essa notícia em 3 pontos:

1. Mulheres que se digladiam por um homem. Geralmente uma é a esposa/namorada e a outra é a amante. As duas se pegam no meio da rua, do bar, da festa… não importa o lugar. O que importa é que uma mulher se vinga da traição com a outra mulher, e a impressão que fica é que o homem, coitado, não tem nada a ver com aquela situação. Tão clichê quanto a briga, é o desfecho: a situação se manterá a mesma, e além desse deus da beleza e da inteligência, vão dividir a vergonha e a
humilhação.

2. Duas jovens, quase adolescentes. Uma morta, e a outra com a vida destruída. Não sabemos as nuances desse caso. Não sabemos como era esse pai, esse marido e esse ‘amante’. Não sabemos se existia alguma dependência emocional ou financeira que justifique uma atitude tão drástica de uma filha diante de um comportamento que só diz respeito aos seus pais. Precisaríamos de um doutorado em psicanálise clínica para chegar perto de algum entendimento, e talvez nem assim.

3. As pessoas filmam, fotografam, riem. Mas não intervém. O espetáculo da violência e da morte é mais interessante. Seria injusto dizer que as coisas perderam o controle agora. Em fevereiro de 2017, Dandara foi espancada até a morte por ser travesti, e em 2014, Fabiane Maria de Jesus foi linchada pela população por conta de um boato. Ambas tiveram seus assassinatos registrados e compartilhados por pessoas que preferiram segurar seus celulares à ajudar um ser humano que estava sendo destroçado.

O mito do brasileiro pacífico caiu por terra faz tempo. O problema agora é outro: o que podemos e devemos fazer para evitar nossa própria desgraça enquanto sociedade?

*não iremos compartilhar as imagens.

com informações do site O Dia

Leave a Reply

%d blogueiros gostam disto: