São diversas as teorias sobre a histórica repressão sexual vivida pelas mulheres. A mais conhecida talvez seja a relacionada à religião e aos costumes e moral familiar. Das diversas marcas deixadas por essa repressão, a falta de conhecimento do próprio corpo e a ideia de que o prazer deve ser cedido ao outro talvez sejam as mais impactantes.
— A mulher foi eternamente orientada e estimulada a esquecer sua genitália. O sexo era apenas para a procriação. Podemos ver isso em passagens bíblicas, por exemplo. — declara a médica Lúcia Alves, presidente da Comissão Nacional Especializada em Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
No Dia do Sexo, comemorado no Brasil em 6 de setembro, Celina conversou com especialistas sobre a importância do pleno exercício da sexualidade feminina .
Segundo Lúcia, a repressão da sexualidade da mulher está muito ligada às necessidades políticas e sociais de cada época. A virgindade , por exemplo, foi um ponto colocado como uma questão moral para impedir que elas engravidassem de parceiros diferentes. Nessa mesma lógica, proibiu-se o toque na genitália feminina pela crença de que a estimulação aumentaria as chances de a mulher iniciar a sua vida sexual mais cedo — uma vida sexual ativa fora do casamento significava que essa mulher seria vista pela sociedade como alguém que não merecia respeito.
— Se a mulher conhece o prazer na genitália, ela pode se dar ao outro e engravidar. É imoral. Pense nas questões da herança e do filho bastardo. A relação do sexo com a moral da mulher criada foi para impedir sua reprodução por vários parceiros e evitar essas questões. Por isso ela precisa ser virgem no momento do casamento; para que reproduza somente daquele homem.
De acordo com a psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Sexualidade da Universidade de São Paulo (USP), tradicionalmente, a mulher sempre associou a sua sexualidade à atividade reprodutora. Como esse padrão era comum, elas não buscavam o prazer sexual.
— A genitália da mulher passou, então, a ser um órgão proibido. A mulher não se toca e nem permite o toque — afirma Carmita.
A médica Lúcia Alves afirma que a mulher não aprende a se masturbar e, assim, perde a oportunidade de aprender a ter um orgasmo . Se a masturbação promove o prazer, mas ele é proibido e contra a moral, o sentimento que surge na mulher é o de vergonha em relação à masturbação.
— É pecado. Menos de 30% das mulheres têm orgasmo com o movimento do pênis na vagina. Mais de 70% precisa de estímulo clitoriano. — explica Lúcia.
Mariana Stock, comunicadora, psicanalista e fundadora da Prazerela, escola com a missão de apoiar mulheres a se empoderar de seus corpos através do prazer, completa o pensamento da médica:
— A mulher ainda vai se masturbar guiada pela cultura falocêntrica, pela pornografia. Aí ela compra um dildo gigante em formato de pênis e coloca na vagina e não tem orgasmo com isso. Ela nunca aprendeu que o lugar de estímulo dela é a vulva. Ela nunca aprendeu que tipo de estímulo pode facilitar a chegada ao orgasmo.
Do Globo