Conheça o grupo de mulheres que mudou de vida com empreendedorismo feminino e social

By 16 de setembro de 2019Lute como uma garota


Mulheres empreendedoras no Brasil são uma parcela da população que mesmo enfrentando dificuldades e preconceitos, não foge da luta. Não há tarefa doméstica, cuidado com os filhos ou projetos de trabalho que as tirem do foco.

Em Juiz de Fora, um grupo chamado Mulheres Ativas e Empreendedoras (M.A.E), vem reforçando o que mostram os estudos sobre o protagonismo da mulher no campo do empreendedorismo feminino e social.

Com integrantes das mais diversas idades, nas mais diferentes profissões, o grupo tem como objetivo promover o fortalecimento de parcerias e o crescimento do número de mulheres que buscam aprimorar seus conhecimentos e ter acesso a conteúdos relevantes sobre empreendedorismo.

Idealizado por Priscilla Sobrinho, casada, mãe de dois filhos, que atua como gerente de vendas e designer de papelaria, o M.A.E surgiu quando ela percebeu como era difícil encontrar eventos de apoio ao protagonismo feminino no ramo dos negócios na cidade.

“Somos uma rede de mulheres que inspiram e transformam umas às outras, que nasceu da vontade de fomentar o crescimento do negócio de cada uma. Mas, que antes de tudo, cuida da autoestima dessas mulheres, estimulando atitudes de poder, cuidando das dores do coração e das inquietudes da mente humana. Precisamos cuidar de nós. Precisamos entender como a autoestima reflete no desenvolvimento de uma empresa, no crescimento de um negócio,” explica.

Quando se fala de empreendedorismo, muitas vezes se limita falar de empresas e projetos, mas é importante lembrar que o empreendedorismo feminino vai muito além. Porque, mais do que ter o próprio negócio e lucrar com ele, esta forma de empreender dá mais espaço e visibilidade para a abordagem para muitas outras questões relacionadas ao universo feminino.

Segundo um relatório especial produzido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae), em março deste ano, apesar de ser metade das empreendedoras no país, as mulheres empreendem mais por necessidade (44% frente a 32% dos homens), ganham 22% menos que os homens (mesmo tendo 16% mais escolaridade) e são maioria nos setores de alimentos, vestuário e beleza. Nas áreas mais inovadoras, como tecnologia da informação, a mulher ainda perde um espaço significativo para o público masculino.

Uma vez por mês, as integrantes do M.A.E se reúnem num espaço de eventos, sempre à noite, quando conseguem ter um pouco mais de tranquilidade para se dedicarem a si mesmas. Ali, têm a oportunidade de ouvir histórias de transformação pessoal e profissional de outras mulheres empreendedoras, que buscam conhecimento, parcerias e conteúdos direcionados. O resultado é certo. Conseguem novos clientes, firmam parcerias, dividem conquistas, agregam valor aos negócios.

“É muito bom fazer parte de um grupo no qual você se identifica. É confortante quando você ouve uma história de superação e lembra da sua própria trajetória. Ou quando você visualiza uma mensagem no grupo de Whatsapp e percebe que tem alguém como você, que ainda está trabalhando depois da uma hora da manhã. O fato de ser mulher já te coloca na faixa das pessoas que têm uma jornada, no mínimo tripla, mas nesses eventos a gente percebe que todas estão no mesmo barco. E cada uma encontrou uma forma de lidar com e podem dividir com as outras”, afirma a química e sócia-proprietária de uma loja de aromas e perfumes para o bem-estar, Denise Barros Almeida Barbosa.

“Não sei dizer exatamente o que mais me motiva. O fundamental que me leva até lá é que são mulheres, que com todas as dificuldades seguem persistindo. Vivemos em uma sociedade que exige muito da mulher. E nas reuniões do grupo, cada uma traz uma história de superação e de dificuldades para conquistar seu espaço. Eu sempre participo com minha filha, então aproveito para mostrar a ela que a importância está na trajetória, e não no começo ou no fim”, completa Denise.

Escolher entre ser mãe ou profissional

Quando se viu sozinha, ao ser abandonada pelo companheiro quando engravidou da filha, a confeiteira Paula Serrano, que já trabalhou na área de eventos e marketing, precisou fazer uma escolha que mudou o rumo de sua vida. “A maternidade sempre traz mudanças, mas o meu lado profissional também experimentou uma outra vivência. Tentei voltar ao mercado de trabalho, mas ouvi do meu patrão, na época, que deveria escolher entre ser mãe ou profissional, porque as duas funções eu não teria condições de exercer. Ele me mandou escolher e eu escolhi. Decidi ser eu mesma. Montei minha empresa, a Cupcakes da Paula.”

Para Paula o grupo é uma força intensa que impulsiona a todas as participantes. — Foto: DivulgaçãoPara Paula o grupo é uma força intensa que impulsiona a todas as participantes. — Foto: Divulgação
Para Paula o grupo é uma força intensa que impulsiona a todas as participantes. — Foto: Divulgação

Paula chegou até o Mulheres Ativas e Empreendedoras atraída pela oportunidade de compartilhar histórias, dificuldades de empreender, saber sobre o que vivenciavam outras pessoas. Era preciso entender como lidavam com a falta apoio de um mercado que não absorve essas mães e mulheres que precisam trabalhar dentro de casa, ou fora dela, por qualquer motivo.

“Eu também quis motivar, encorajar, orientar, mostrar que nós podemos ser o que quisermos. Acolher essas mulheres que as vezes estão em depressão, desmotivadas, boicotadas é muito importante. Acredito que o motivo principal deste movimento em que se transformou o M.A.E, seja o acolhimento e o despertar dessas mulheres. Busco a troca de experiências, a motivação para continuar, a energia que circula entre nós. E acredito que o networking pode sim, ser a consequência, não o foco principal. Estamos lá para nos ajudar, para acolher e ter apoio. Esse grupo é uma força intensa que nos impulsiona,” relata.

Mayara Fusco, 32 anos, mãe de um menino de 7, é dona de uma empresa de alimentação. Ela conta que entrou no M.A.E por simples curiosidade, mas saiu do encontro cheia de motivação. “Ouvir aqueles depoimentos me provocou uma mudança de atitude. Eu percebi que, como eu, outras tantas mulheres presentes ali, temos problemas. E, mesmo que pareçam difícil de serem resolvidos, eles não foram empecilho suficiente que elas desanimassem. Foi a partir dali que resolvi lutar contra a vontade de desistir e consegui tirar do papel a concretização da minha empresa.

Ela conta que se sente acolhida, fortalecida, encorajada. “Vi que somos mulheres reais. Cada depoimento traz verdade e sabemos que entre nós não há mulheres com superpoderes. Somos guerreiras, temos dificuldades, mas insistimos em nossos sonhos.”

Além de um negócio

De acordo com a analista do Sebrae Minas, Daniela Ferreira, o empreendedorismo feminino vai muito além de uma mulher à frente de um negócio. Ele promove a autonomia da mulher, como uma forma de garantir seu sustento e, também sua satisfação pessoal e profissional. “As mulheres possuem algumas características próprias e levam isso para o seu negócio, como por exemplo, temos uma visão mais abrangente e analítica por conta da nossa atenção aos detalhes que nos permite avaliar com mais clareza as decisões que precisam ser tomadas. Também damos mais atenção aos colaboradores e usamos mais cooperação, compartilhamento e comunicação para melhorar o desempenho de nossas equipes.”

Daniela explica que apesar do crescimento do empreendedorismo feminino, alguns dados são preocupantes. “As mulheres empreendem mais por necessidade e se dedicam até 30% a menos em seus negócios em comparação aos homens. Isso se deve ao fato de a sociedade, em geral, ainda considerar a mulher como a principal responsável pela criação dos filhos, pelos cuidados familiares e serviços domésticos. Portanto, um dos maiores desafios enfrentados pelo público feminino é justamente equilibrar o excesso de tarefas da vida pessoal e seu negócio. A busca pela equidade na distribuição das tarefas domésticas é um ponto chave e precisa ser mais discutido.

A designer de interiores e, também pedagoga, Elizabeth Hargreaves, é um exemplo que reforça o objetivo do M.A.E. Natural de Brasília, ela se formou em pedagogia, se casou há 27 anos, é mãe de duas filhas. Ao se mudar pra Juiz de Fora, ela experienciou a falta de recolocação no mercado de trabalho. Desempregada, precisou se fortalecer para amparar o marido, que também perdeu o emprego.

Do G1

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