Ode ao Bozo, o discurso de ódio e quando garotas incomodam pela postura política e sacodem a cultura paraibana

By 6 de janeiro de 2020Lute como uma garota



Uma das grandes revelações da cena musical paraibana, a banda Gatunas, formada por Ruanna Gonçalves – guitarra e vocal, Morgana Morais – baixo e vocal e Marcondes Orange, na bateria,

começou com a missão de fazer um show homenageando Rita Lee, enveredou-se pelo caminho autoral e virou manchete no noticiário local na semana passada, ao lançar o single Ode ao Bozo, um verdadeiro hino feminista super engajado e que traz verdades sobre o atual presidente. Toda essa mistura da letra gerou bastante repercussão, discursos de ódio, ameaças e uma certeza: A América Latina precisa mais do que nunca ser toda feminista.

Conversamos com Ruanna Gonçalves, autora da música que nos revelou que a composição foi feita durante a semana do “Ele Não”. “A banda foi convidada pra tocar, durante a semana e música surgiu. Durante o ato (que aconteceu na Praça da Paz, em outubro de 2018) ela foi praticamente recitada”. Ruanna faz parte do movimento feminista e participa do projeto LIS – Liberdade – Igualdade – Sororidade.

Ruanna também conta que a música foi sendo amadurecida, e a mistura de brega e rock causava estranheza, “mas a essência era essa!”, afirma. Com o tempo, a letra foi sendo modificada e chegou até Ryan Pontes, que hoje faz as mixagens e a produção da banda, um grito feminista foi inserido e a música finalmente ficou pronta.

O vídeo já soma mais de 8 mil visualizações. 



Como foi a aceitação da música?

A aceitação sempre foi muito boa. Não queríamos que o cenário brasileiro ainda estivesse nessa situação e não queríamos que essa música precisasse ser gravada. Gravamos e lançamos o single numa animação pra o youtube e IGTV. O clip já tá quase pronto pra ser gravado. Corremos pra lançar ainda em 2019 e o objetivo era a questão do marketing e divulgação do clip e do lançamento do nosso primeiro EP. Não esperávamos uma repercussão tão grande, tivemos uma divulgação muito boa.
Como reagiram ao tomar conhecimento dos ataques?

Soubemos que a música tinha ido parar num grupo de whastapp que se considera de extrema direita e que eles estavam tentando derrubar o vídeo. De repente começou a subir o número de deslikes. Fomos pegas de surpresa.
Então nós começamos um movimento contrário e surgiu uma reação em cadeia dos amigos e dos fãs. A galera começou a se manifestar a favor. No final das contas foram esses ataques que ajudaram o vídeo a se espalhar e ganhar visibilidade e fazer com que as pessoas se engajassem. Nesse período, dobramos o número de inscritos.
Como vocês lidam com esse tipo de abordagem?

Já recebi mensagens pedindo pra eu tomar cuidado e nós tomamos cuidado desde sempre, não só por esse fato, mas pelo cotidiano, que é de luta mesmo. A visibilidade aumentou e por isso mesmo não vamos nos calar. Recebi ataques no meu perfil pessoal, de um cara que se identifica como ‘dentista de estrelas’, dizendo que nós não faríamos sucesso porque não se mistura música com política, mas a banda vai demonstrar que ninguém pode atacar achando que não vai ser exposto. Essas pessoas acham que somos covardes feito elas.

A denúncia faz parte da história do Gatunas desde sempre.

A principal bandeira dos Gatunas é a bandeira feminista. Quisemos mostrar o pessimismo de quando Bolsonaro foi eleito. Nos colocamos como resistência, não só pelas músicas, na performances, nós assumimos esse protagonismo. É possível construir uma relevância como uma banda que tem qualidade e nos colocamos na luta, com a nossa música.

Taty Valéria

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