Os tristes relatos das paraibanas que sofreram assédio sexual nos consultórios médicos

By 8 de janeiro de 2020Lute como uma garota, Machismo mata

No início do mês de dezembro, postamos aqui no site uma matéria sobre a campanha #OndeDoi, propostas por organizações e grupos feministas. O objetivo era visibilizar um problema bem sério: os casos de violência contra as mulheres praticados por profissionais de saúde. Em poucas horas, a hashtag alcançou o terceiro lugar nos Trending Topics do Twitter no Brasil, com o compartilhamento de dezenas de histórias de violência sexual em consultórios envolvendo principalmente médicos.

Até o início dessa semana, a hashtag recebeu mais de 4 mil relatos em redes sociais como o Twitter. Já no site da iniciativa, www.ondedoi.org, que documenta as ocorrências por um formulário, o número passa de 360.

Nós, do Paraíba Feminina, divulgamos a campanha na época e também recebemos alguns relatos bem chocantes.

L.F fez um exame de Ecocardiograma em uma clínica particular especializada em exames do coração em Campina Grande.

O médico mal me cumprimentou, pediu que eu ficasse de costas pra ele e estando deitada passava constantemente o braço e o punho sobre meus mamilos que com o gel frio ficavam duros. Foi tão terrivelmente constrangedor que quando cheguei em casa chorei no banho. Ano passado minha mãe passou pelo mesmo exame e eu fiz um alarde tão grande do quanto era horrível que ela pediu que eu a acompanhasse, com ela, com outro médico foi totalmente diferente, sequer ele abriu totalmente o roupão dela e nem tocou em seus mamilos. Nesse dia eu entendi que a conduta do médico que me atendeu foi abusiva”.

I.B conta que sofreu abuso quando ainda era adolescente.

Fui bater uma radiografia DA FACE no HU de CG, eu tinha 15 anos, mas disseram que só podia ficar na sala eu e o médico, e minha mãe ficou do lado de fora. Deitei e me posicionei como o médico pediu, de bruços, ele ajeitou minha cabeça e lá eu fiquei paradinha. Daí o médico foi pra salinha e outro homem que estava lá dentro, que não tinha nenhuma vestimenta de médico ou profissional da área de saúde, veio e começou a me “endireitar”, sendo que ele fazia isso pegando no meu quadril, sempre por ele e várias vezes. Naquela época eu não entendia o motivo, se o raio X era da FACE, mas por ter uma autoestima baixíssima nem se passava pela minha cabeça que ele tava fazendo aquilo com outra intenção, Até porque você não precisa ter “corpão” pra sofrer assédio, só precisa ser mulher. Depois tinha que bater um em pé também e ele sempre pegando pelo meu quadril pra me colocar no lugar certo, mas no momento eu fiquei sem saber o que fazer… Afinal, estava em uma sala isolada com dois homens e eu só tinha 15 anos”.

Ainda não há um levantamento oficial sobre as ocorrências de violência sexual em ambientes médicos, como hospitais, consultórios e postos de saúde. Os conselhos de medicina, que podem cassar a licença de profissionais com conduta indevida, também não apresentam estatísticas.

O Conselho Federal de Medicina, entidade que julga os recursos apresentados em processos do tipo, não possui um levantamento a nível nacional sobre as denúncias de assédio e estupro que chegam aos conselhos regionais.

Além da violência sofrida, essas mulheres ainda precisam lidar com outras violências. O medo de ser desacreditada (quem vai duvidar da palavra de um médico?), o corporativismo extremo da classe e a falta de punição tornam a o crime difícil de denunciar.

Mas é importante não se calar. No site www.ondedoi.org você encontra os caminhos.

Taty Valéria, com informações da BBC News

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