Filmes que amamos: como não percebemos que eram tão machistas? Parte 1

By 25 de janeiro de 2020Lute como uma garota

A editora que vos fala ama cinema. Um dos meus luxos preferidos quando consegui meu primeiro emprego (caixa de loja), era ir ao cinema sozinha. Não sou especialista, mas me considero cinéfila e eles que lutem.

Por falta de tempo e dinheiro, ir ao cinema se tornou nos últimos anos um programa que faço uma vez, talvez duas, por ano para assistir com os filhotes os filmes que eles querem. Não deixa de ser divertido.

Ler e analisar sobre cinema se tornou a estratégia para não sair desse mundo fantástico, e claro, não posso deixar de agradecer a existência da Netflix e fazer esse merchand gratuito.

Minha primeira ‘análise’, totalmente desprovida de embasamento acadêmico, fala sobre filmes que amamos, mas que são machistas. Não são os óbvios. É o machismo nas entrelinhas que estão lá e que não percebemos porque estão envoltos em personagens lindos. Aproveite!

Uma Linda Mulher (1990) 

botas icônicas



Sucesso nos anos 90, Uma Linda Mulher lançou Julia Roberts ao estrelato. Conta a história de uma prostitua de rua, que por acaso conhece o milionário (e lindo) Edward, vivido por um Richard Gere no auge da fama e da beleza. Você conhece o roteiro, eu sei, então vamos pular pra o final.

Vivian decide que quer ir embora pra São Francisco aproveitar a grana que recebeu. Quer voltar a estudar e viver uma vida nova. Mas eis que Edward surge e, assim como um príncipe de contos de fadas, “salva” a bela e indefesa Vivian, e eles vivem felizes para sempre. Só que não.

Vivian é muito jovem. Edward é podre de rico, mimado, e cheio de problemas existenciais. Vivian vai ser educada sim, mas vai aprender regras de etiqueta e comportamento, vai aprender a se vestir, vai aprender a falar baixo e a andar sem rebolar tanto (coisas que Edward já reclamava) e vai ter que usar de todo o seu poder de articulação para não cair em contradição e revelar, em algum momento, que já foi prostituta de rua. E se um ex cliente aparecer? E se ela tiver que explicar de onde veio e o que fazia? E quantas vezes, durante uma briga, Edward não será capaz de jogar tudo isso na cara dela? Na melhor das hipóteses, Vivian vai ser uma esposa troféu. Um filme machista sim, mas é fofo o suficiente pra gente não ter prestado atenção à isso.

500 dias com ela (2009)

um filme resumido num poster

Tom (Joseph Gordon-Levitt) conhece Summer (Zooey Deschanel), a nova assistente de seu chefe. Tom é um arquiteto formado que trabalha como escritor em uma empresa de cartões em Los Angeles. Após uma noite de karaoke, um colega de trabalho deixa escapar que Tom é atraído por Summer, e aí começa do “romance”.

Tom é bem gracinha, super descolado, e bem queridinho. Assim fica fácil se apaixonar. Mas Summer deixa muito claro desde o início que não acredita no amor verdadeiro e não quer um namorado. Tom, como todo homem que se afirma desconstruído, entra na onda. Só que ele não aguenta, força a barra e perde o pouco do que tinha, ou seja, perde aquilo que a Summer estava disposta a dar. Apesar de sofrer junto, nós sabemos que ele nunca foi enganado.

E na verdade, Summer só tratou o Tom como os homens costumam tratar as mulheres, mas é ela que é chamada de vaca.

Como Se Fosse a Primeira Vez (2004)

imagina passar o resto da vida com o Adam Sandler?

Um dos clássicos da Sessão da Tarde, é difícil encontrar alguém que não tenha assistido Como Se Fosse a Primeira Vez, uma comédia romântica super fofa que conta a história de um cara que se apaixona por uma mulher que sofre de perda de memória, e se esquece de tudo o que aconteceu no dia anterior.Lucy vive, literalmente, um dia de cada vez. Por isso, ele precisa fazer com que ela se apaixone por ele todos os dias! Owwww… seria lindo…

Não fosse o fato de Henry (Adam Sandler), levar a Lucy (Drew Barrymore) para um barco em alto mar, fazer a Lucy engravidar, e tornar a vida dela uma prisão eterna. Vocês me desculpem, mas isso aí não tem nada de romântico.

 Nasce uma Estrela (2018)

podia ter dado certo

Jackson Maine (Bradley Cooper, ele de novo!), é um cantor famoso, alcoólatra e viciado em remédios. Depois de um show, Jackson passa por um bar onde assiste a uma performance de Ally (Lady Gaga), uma garçonete e cantora. Jackson fica impressionado com o talento dela. Se apaixonam, eles cantam juntos num show e a vida de Ally nunca mais será a mesma. O sucesso que ela alcança vem na mesma medida em que os vícios de Jackson o tornam insuportável.

Jackson tenta minar a auto estima da esposa pra se sentir menos lixo (quem nunca?) e consegue acabar com a grande noite de Ally. No final das contas, e apesar de trágico, Ally teve o melhor final possível diante do que ela tinha de perspectiva. Sim, é um filme triste.

(a química entre o Bradley e a Gaga foi fantástica. Ele era casado, se separou e foi morar com ela. Juntos e shallow now)


Casamento Grego (2002)

a família doida é o menor dos problemas

Toula Portokalos (Nia Vardalos) é uma moça de origem grega, que já passou da idade de casar, vive sofrendo bullyng e com aquela pressão de ser a única moça solteira e sem filhos da família. Mas aí Toula chuta o balde, muda o visual, volta a estudar e começa a trabalhar no que gosta. Eis eu ela conhece o gatíssimo Ian (John Corbett), e todo aquele esforço em se tornar independente simplesmente desaparece.

Ian é gentil, inteligente e se mostra disposto a passar por todas as tradições e protocolos exigidos pela família grega. Isso é motivo suficiente pra ele não ser um boy lixo. Ok. Mas tudo já terminaria muitíssimo estranho (Toula abandona o curso e o emprego) se, no último diálogo da última cena, Toula não dissesse à filha pequena que ela poderia namorar quem quisesse, desde que fosse grego.

Taty Valéria

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