No final da tarde desta quinta-feira (19), publicamos em nosso Instagram um vídeo que aborda o coronavírus sob a perspectiva de gênero. Como o isolamento pode prejudicar ainda mais as mulheres? Se você não viu, clique aqui.
Um dos pontos abordados é a questão da sobrecarga do trabalho doméstico para as mulheres, especialmente quando as escolas estão fechadas, além do isolamento emocional.
Metade dos alunos do mundo estão sem aulas por conta do coronavírus, segundo dados da Unesco. Na Paraíba, desde a terça-feira (17), escolas públicas e particulares estão fechadas.
Em uma sociedade que responsabiliza com maior pesagem o papel da mulher na criação dos filhos, equilibrar home office (para aquelas que têm esse privilégio) e cuidado integral com crianças tem sido uma jornada desafiadora — e muitas vezes solitária.
Conversamos com leitoras do Paraíba Feminina, que são mães, e que passaram suas impressões pessoais sobre o isolamento, a angústia em relação às notícias, o desconforto de estar longe do trabalho, e como estão lidando com a situação.
Giuliana Navarro, servidora pública, 3 filhos:
“Já foi difícil responder com três crianças pequenas em casa. Quem diria que iríamos viver uma situação dessas? Eu trabalho fora, gosto de ter contato com as pessoas, de abraçar, de conversar. Outra coisa bem complicada é explicar às crianças que esse período em casa não são férias!
A limpeza de casa é algo preocupante. Liberei minha diarista e passo bastante tempo limpando tudo. Também estou organizando coisas em casa que estavam pendentes.
O principal problema desse isolamento é a nossa cabeça. Fico tentando acompanhar as notícias e isso gera mais angústia. Não sei o que nos espera. Espero ter sanidade mental para passar tudo, preciso estar bem para que meus filhos estejam bem (um dos filhos de Giuliana é asmático crônico). Só desejo que isso tudo passe logo e que possamos voltar às nossas rotinas.”
A.C, servidora pública, 1 filho
“Estou me sentindo extremamente frustrada, por ser obrigada a ficar em casa. O isolamento me traz um desconforto emocional terrível e a frustração de também não poder exercer o meu trabalho como deveria. Ficar em casa é quase insuportável e expor que me sinto assim só faz com que eu seja ainda mais criticada em casa.
É um isolamento vigiado e cheio de cobranças, ainda mais para as mulheres, que deveriam ser as galinhas com pintinhos embaixo das asas. Na verdade, me sinto sem asas, presa em uma gaiola. Espero que passe rápido, antes que todas as minhas relações familiares sejam desfeitas”
Raíssa Fernandes, empresária, 3 filhos
“Trabalho especialmente com turismo, que é o que faz girar a economia aqui em Bananeiras. Os pacotes de viagem que estavam marcados já foram cancelados. Meu bistrô também oferece música ao vivo, e por conta do decreto que proíbe aglomerações, e também por uma questão de responsabilidade pessoal, não estamos mais abrindo e funcionando só com delivery.
Por ter muita gente em casa, a feira é sempre grande. Por enquanto, ainda não senti falta de produtos aqui na região do Brejo, mas me preocupa os agricultores que vendem na feira central. Como eles vão fazer? Não sentimos os efeitos econômico ainda, mas eles vão chegar.
As crianças em casa ainda não estão sentindo tanto, mas é estranho não ver crianças na rua. Só idosos, que ainda circulam normalmente. Minha mãe tem 80 anos, mora em Campina Grande e não podemos visitá-la. Eu só espero que isso tudo passe bem rápido.”
Taty Valéria