Senta que lá vem história.
Após sucessivos roubos em sua residência na cidade de Colinas do Tocantins, Maria Lidia Martino decidiu abrir ocorrência na 4ª Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e Vulneráveis de Polícia Civil no fim de março.
Maria Lidia Martino tem 100 anos de vida. No último roubo, ela foi agredida por ladrões, que também eram usuários de drogas. Só assim, decidiu prestar queixa e recebeu a visita de uma agente policial, que constatou que a idosa morava sozinha num local extremamente insalubre. Depois de estabelecida uma relação de confiança com a agente, Maria Bethânia Valadão, ela resolveu se abrir.
Maria Lídia era um nome falso, e aquela senhoria centenária era na verdade uma ex guerrilheira do Araguaia que vivia há 4 décadas na clandestinidade.
Nô, com a agente Maria Bethania Valadão |
Após relatos de Maria Lidia sobre a luta armada – na qual ela atuava na parte da inteligência – e a fundação do PCB, os agentes buscaram familiares de uma senhora que havia desaparecido em São Paulo há décadas e constatou que a centenária era, na realidade, Leonor Carrato.
Nô, de tranças |
Leonor, conhecida como Nô, afirmou ainda que fez parte da Ação Libertadora Nacional (ALN) e conheceu Carlos Marighella pessoalmente em São Paulo. O nome falso passou a ser usado por Leonor em 1971, após certidão emitida em Castanhal (PA).
Fora dos relatórios da Comissão da Verdade, Leonor ainda relatou que três companheiras de luta no Araguaia conseguiram sair vivas e teriam partido para os Estados Unidos – sem revelar nomes.
A história foi contada nos mínimos detalhes ao jornalista Lailton Costa, do Jornal de Tocantins.
A produtora cultural Luciene Anacleto, sobrinha de Leonor, contou que a família realizou diversas buscas entre 1967 e 1980 por todo o estado de Goiás – na época, o Tocantins ainda integrava Goiás – e chegou até mesmo a contratar um detetive particular. Ela acredita que a troca de nomes impossibilitou o reencontro.
Nô revendia, em Goiás, roupas enviadas pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo com o objetivo de financiar o movimento.
“Vendendo essas roupas ela chegou a ir até o Araguaia, onde segundo ela, sua maior arma sempre foi a inteligência”, afirmou a sobrinha da guerrilheira centenária.
O esperado retorno da mãe de Luciene, Telezila – irmã mais velha já falecida da guerrilheira – não teria acontecido antes em razão de uma mentira que deixou a filha desolada. “O companheiro que ela convivia desde 1965, havia feito uma pesquisa e disse que sua mãe, Dona Maria, havia falecido em 1967 por tristeza e desgosta pelo sumiço. O que era uma grande mentira, minha avó faleceu no final dos anos 90”, relatou.
“Como uma mentira pode transformar e afetar uma família inteira… Segundo ela, ‘tinha acabado o sentido de voltar’”, disse ainda. Com o esforço das sobrinhas, Leonor agora está de volta Minas Gerais, estado onde nasceu. Está vivendo em Itamogi (MG), há 200 km de sua cidade natal, Andradas (MG).
agora ela está com a família |
Nô agora reencontrou a família e quem sabe, poderá fazer as pazes com a sua própria história.
Da Revista Fórum, e Jornal de Tocantins