O Enem e a crueldade da tática “Dê um jeito de estudar” para famílias humildes

By 7 de maio de 2020Brasil
imagem ilustrativa

A propaganda do Ministério da Educação sobre o ENEM 2020 é uma lindeza só.

Diz que os jovens devem estudar, não podem perder essa oportunidade de entrar numa universidade. Mostram adolescentes num lindo quarto arejado, cheio de livros, com computadores e celulares. “Estude! Em qualquer lugar, do jeito que for!”. Em resumo: vocês que lutem.

Estude de qualquer lugar, de diferentes formas

A propaganda fala de uma realidade que não é regra. No Brasil, o contingente de alunos no ensino médio chega a 6,9 milhões, sendo que 82,4% estudam em escola pública. São jovens que não têm acesso às mesmas condições de aprendizagem. Muitos trabalham para ajudar a família, muitos não têm redes de internet doméstica de qualidade, muitos têm sequer, computador em casa. Alguns dividem o quarto com outros familiares. Dizer à um adolescente nessas condições que “dê um jeito de estudar” é cruel.

Muitos educadores, estudiosos, autoridades, professores, alunos e responsáveis, têm se mostrado apreensivos com a possibilidade do ENEM ocorrer esse ano. Se já havia uma desigualdade entre alunos da rede pública e particular, ela agora atingiu níveis imensuráveis.

Suênia Bandeira tem dois filhos gêmeos, de 17 anos, que estão no 3º ano do Ensino Médio e estavam se preparando para fazer o ENEM esse ano. Alunos da Escola Integral Severino Cabral, em Campina Grande, eles agora repensam se querem fazer mesmo o exame. E Suênia se mostra preocupada.

“Cuido sozinha deles. Faço faxinas sou boleira e doceira, mas agora não consigo trabalhar, o auxílio do governo federal ajuda, mas não é suficiente. Não temos computador em casa, eles só têm o celular. Não acredito que as aulas on line serão suficientes para ajudar meus filhos nesse processo”, afirmou.

Suênia e seus filhos

Sobre a propaganda do Ministério da Educação, Suênia se revolta. “Vemos a propaganda do governo incentivando os adolescentes a estudar, mas estudar como? Como vamos exigir dos nossos filhos que estudem, que se concentrem? É desumano querer fazer isso com esses adolescentes”, e completa:

Esse ENEM deveria ser adiado, seria a coisa mais justa. Devemos pensar no todo, não num grupo!

Como exigir que jovens que vivem em família que tiveram sua renda diminuída de forma drástica e que já viviam em situação de vulnerabilidade, possam competir em igualdade de condições?

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, já afirmou que o ENEM não será adiado.

Como falamos em outras oportunidades, a pandemia do coronavírus vai passar. Mas a destruição social causada por esse governo vai ser uma tarefa ainda mais difícil de reverter, se é que será possível.

Taty Valéria




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