EDITORIAL – O dia em que o dono do jornal escancarou desejo de apedrejar jornalistas

By 14 de maio de 2020Lute como uma garota

A profissão de jornalista é ingrata.
Aqui na Paraíba, é ainda mais. Se reconhece rapidamente um jornalista ético e comprometido: ele é liso. Isso é um fato.
Habitamos em dois mundos distintos: de um lado, está o pessoal que trabalha, que vai em buscas de pauta, que entrevista, que procura dados, que ouve os lados envolvidos, que são conhecidos por dar credibilidade àquilo que escrevem e que publicam. Do outro, aqueles que, na grande maioria das vezes, nem diploma têm, mas que se projetam pelo sensacionalismo e são dotados de uma auto estima tão espantosa que até se candidatam à cargos públicos, obviamente, se apoiando no discurso do senso comum. Muita gritaria, e pouco conteúdo.
Isso não é novidade nenhuma pra quem mora na Paraíba e acompanha diariamente o noticiário local. O reconhecimento de quem faz um jornalismo realmente sério e comprometido foi, no início da tarde desta quinta-feira, 14 de maio, para a famosa caixa das almas.
Quando o próprio dono de um Sistema de Comunicação vem a público, no programa de rádio de maior audiência, e afirma num tom de voz alterado, que a imprensa precisa sim ser apedrejada, podemos esperar o quê?
Durante a apresentação do Correio Debate desta terça, logo no início do programa, o todo poderoso Roberto Cavalcanti, dono do Sistema Correio de Comunicação, entrou no ar para reclamar. Reclamar da quarentena, dos critérios sobre a reabertura do comércio, reclamar porque não está conseguindo vender seus carros de luxo. Chama de criminosa a atuação do poder público, que insiste no isolamento social.
Disse que estava entalado. Precisava soltar sua revolta.
Para o senhor Roberto Cavalcanti, um jornalista que publica o número de mortes causadas pelo Coronavírus deveria ser apedrejado na rua.
Para o senhor Roberto Cavalcanti, não há problema em seu Sistema de Comunicação apresentar, na hora do almoço, pessoas assassinadas. Também não há problemas quando seus apresentadores fazem apologia à violência contra mulher, homofobia e racismo.
Também não há problemas em ter em seus quadros, um apresentador que já se mostra como candidato à prefeitura de João Pessoa, que está, inclusive, extremamente incomodado por ter sido obrigado a interromper sua campanha antecipada. Mas não devemos misturar política com jornalismo, não é mesmo?
Tenho amigos queridos no Sistema Correio. Espero que nenhum deles seja alvo de pedradas. Nem do Sistema Correio, nem de qualquer outra emissora, portal ou rádio.
Mas se isso acontecer, poderemos ao menos apontar o responsável, não que isso vá fazer alguma diferença.

Taty Valéria

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