A liberdade que nunca chegou: Porque não comemoramos o 13 de maio

By 15 de maio de 2020Lute como uma garota

13 de maio, dia que marca a Abolição da Escravatura no Brasil. Enquanto projeto que luta, entre outras pautas, pelo fim do racismo, nós do Paraíba Feminina recebemos algumas mensagens de cobranças nesse sentido: ‘Não vão postar nada?’.

Não, não postamos. Algumas coisas você se obriga a aprender. Uma delas diz respeito à essa data. Se o movimento negro não a considera comemorativa, quem somos nós para discordar?

Outra coisa que aprendemos ao longo do tempo se chama “lugar de fala”. Só quem está dentro da situação, seja ela qual for, possui a legitimidade de falar sobre ela. E nós apoiamos nisso.

Convidamos então Dandara Correia, assistente social, docente e associada colaboradora da Bamidelê – Organização de Mulheres Negras na Paraíba, para nos presentear com esse texto e nos explicar, do seu lugar de fala, o que significa o 13 de maio:

“No Brasil, o dia 13 de maio marca a abolição da escravatura.  Contudo, o movimento negro não comemora essa data, pelo contrário, a encara como mais um dia de protesto e denúncia das inúmeras desigualdades sociais que imperam no País, como legado de um abolição que se oficializou, mas no entanto, não garantiu liberdade e cidadania plena para o povo negro.   

Assim, o que ocorreu após a instauração da Lei Áurea foi a manutenção de um sistema capitalista e racista que manteve negros e negras sem oportunidades de integração social.

Uma prova disso, foram as políticas imigratórias fomentadas pelo governo brasileiro na recém república, as quais concediam oportunidades no mercado de trabalho para os brancos estrangeiros.

Cabe destacar que, junto a essas medidas, se consolidou um projeto institucional de branqueamento, o qual, inspirado em ideias eugenistas, defendia que o País deveria “melhorar a nação”, ao progressivamente torná-la mais branca a cada geração. 

Nesse sentido, as pessoas negras foram relegadas ao campo da invisibilidade e ao lugar da negligência institucional, pois não foi concedido a elas nenhum tipo de recurso para sua reorganização no trabalho e na vida. 

Por isso, desmascarar a abolição ainda se faz necessário, pois as marcas dessa história repercutem até hoje e, torna-se, na atual ordem do dia, cada vez mais preocupante. 

Basta ver que a população negra é um dos grupos populacionais que menos dispõe do arsenal necessário para se prevenir do novo coronavírus, pois ainda ocupam a base da pirâmide social acumulando desvantagens em termos de condições de moradia, acesso a alimentos, renda, internet, entre outros.

Agrava-se a isso, o fato do governo federal, assim como no passado, expressar indiferença em relação as populações socialmente mais vulneráveis, uma vez que em sua agenda pública, as medidas de recuperação da economia estão sendo pautadas como prioridades, mesmo que isso desdobre no aumento da mortalidade pelo vírus no atual contexto de pandemia.
Desse modo, a população negra passa a assistir mais um ciclo da história em que sua existência é ameaçada. E é por isso que o 13 de maio representa a continuidade da luta e das formas de resistência de milhares de homens e mulheres negras”.

Taty Valéria, com Dandara Correia

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