Caso do nude de Tiago Iorc: um recorte no preconceito de gênero

Quem foi dormir tarde na noite da última terça-feira (14) e ficou de bobeira no Twitter, virou testemunha ocular da maior sensação dessa quarentena: um nude do cantor Tiago Iorc. Fotos e vídeos começaram a circular ainda antes da meia noite, e nesta quarta, não se fala em outra coisa.

Alguns falam em fake. Outros afirmam que aquilo “tudo” não era dele. Há quem tenha gostado da performance e outros tantos chamaram de “revisionismo histórico”. Pois bem, antes de qualquer análise anatômica/antropológica, é preciso deixar claro que:
De acordo com a Lei 13.718/2018, divulgar foto, vídeo de nudez ou cena de sexo passou a ser crime no Código Penal Brasileiro.

De acordo com o vídeo e a foto que foram compartilhados à exaustão, ficou claro que o cantor enviava aquelas imagens para um perfil específico, pelo Instagram. Existe uma opção de mandar conteúdo exclusivo, para uma ou mais contas em separado. Independente das intenções de Tiago Iorc naquele momento, se tratava de um vídeo íntimo, e não sabemos, até esse momento, se ele tinha intenção que fosse, ou não, repercutido. Mas isso é uma outra questão.

O que nos cabe aqui é fazer um comparativo com recorte de gênero.

Até quando tem sua intimidade exposta, os homens são privilegiados. De todos os comentários que acompanhei a esse respeito, não tomei conhecimento de nenhum julgamento ou achincalhe. Ninguém questionou sua honra, poucos se importaram com a reação de sua família e não vi uma única menção sobre as consequências desse fato para sua carreira.

O mesmo não acontece com mulheres. Pra começo de conversa, ameaçar divulgar fotos nuas da ex companheira é uma das primeiras atitudes de homens rejeitados. O apedrejamento público para uma mulher que tem fotos íntimas vazadas é infinitamente superior. Fotos e vídeos com teor sexual, que são vazadas sem consentimento, ficam guardadas para ser usadas sempre que for conveniente.

O dano moral para um homem que tem sua intimidade vazada é quase mínimo, a não ser por uma ou outra observação fálica de maior ou menor grau, se é que me entendem. Mas um peito ou uma bunda feminina publicizada tem o poder de destruir a vida de uma mulher.

Não dá pra negar que, à princípio, sentimos uma pontinha de vingança. Mas ela logo se esvai no momento em que notamos que pra ele, sua carreira e sua imagem, esse vazamento pode até ser benéfico.

Não deveria ter graça, mas teve. E precisamos falar sobre isso, mas talvez ainda não estejamos prontas e prontos para ter essa conversa.

 

Taty Valéria

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