As eleições municipais deste ano devem registrar um recorde no número de candidatos que se declaram gays, lésbicas, bissexuais, travestis ou transexuais, segundo estimam associações de defesa dos direitos da população LGBT. Levantamento da Aliança Nacional LGBTI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexuais) aponta a existência até o momento de 411 pré-candidatos assumidamente LGBT, além de outros 24 pré-candidatos que declararam apoiar os direitos dessa população.
Os números foram compilados por meio de declaração dos próprios pré-candidatos, que preencheram um formulário no site da associação, e por meio de pesquisas junto aos partidos. Em 2016, ano das últimas eleições municipais, eram 215 os candidatos LGBT que concorreram nas urnas. Em 2012 foram 173, e em 2008, 81 candidatos. As estatísticas são da Aliança LGBTI+ e da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos), que compilou os dados em eleições anteriores. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não dispõe de estatísticas do tipo, pois não pede essa informação no ato do registro das candidaturas.
Neste ano os partidos têm até 26 de setembro para registrar oficialmente os candidatos. Antes do registro oficial, os políticos são considerados pré-candidatos. Os números relativos a 2020, portanto, podem se alterar tanto para mais como para menos. O presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, diz acreditar que o número recorde vai ser confirmado após o registro oficial das candidaturas, pois tem crescido a cada disputa municipal. Historicamente, é nas eleições para prefeito e vereador, segundo Reis, que há um maior número de candidatos LGBT.
“É importante a representatividade, ter candidatos para defender a saúde, a educação, que vão defender pautas amplas, mas que também sejam uma pessoa LGBT”, ele afirma. “A pessoa tem que defender temas gerais, mas pensando também em nossas especificidades”, diz Reis. A expectativa da presidente da ABGLT, Symmy Larrat, é também a de que, neste ano, o número de candidaturas supere o registrado nas disputas municipais passadas. Ela acredita ainda que os candidatos tenham mais apoio das legendas.
As estatísticas compiladas até o momento, entre os 411 pré-candidatos assumidamente LGBT e os 24 pré-candidatos que apenas declararam apoiar o movimento, listam filiados a 26 dos 33 partidos existentes. Do total de 435 pré-candidaturas ligadas à causa LGBT, a maior parte (213 pré-candidatos) disse ser de esquerda, seguidos pelos pré-candidatos que se declararam de centro-esquerda (118), centro (56), direita (15), extrema-esquerda (14), centro-direita (9) e extrema-direita (5). Outros cinco pré-candidatos não informaram a orientação política.
‘Voto com orgulho’ Além de mapear as candidaturas, a Aliança LGBTI+ pretende lançar um curso para os candidatos, sobre temas ligados à disputa eleitoral e também à defesa de direitos, e um canal de denúncias contra atitudes discriminatórias sofridas pelos candidatos. “Teremos uma central nacional de denúncias e vamos mandar um ofício ao TSE e ao Ministério Público Eleitoral para a gente ter um canal direto de denúncias para eles”, afirma Reis.
A associação também prevê o lançamento de uma plataforma online com as propostas para a população LGBT. O levantamento das candidaturas e as outras iniciativas fazem parte do programa “Voto com Orgulho”, que será lançado nos próximos dias. “Para quem viveu o estigma de sermos considerados pecadores mortais, de sermos tratados como criminosos e, até maio de 1990, sermos considerados doentes, nos últimos 20 anos nós estamos indo bem. Nós saímos do anonimato, saímos dos armários e queremos chegar às urnas”, diz Reis.
Symmy Larrat, da ABGLT, afirma que alguns partidos não têm valorizado as candidaturas LGBT e apenas estão em busca de aumentar a quantidade de votos na legenda, o que pode levar a um número maior de vagas conquistadas no legislativo municipal. “Por um lado a gente vê com muita satisfação que pessoas LGBT queiram ocupar esse lugar. É necessário pessoas como nós ocupando esse lugar de poder. Por outro lado a gente sente uma preocupação quando vê que o interesse de certos partidos não é na defesa da nossa pauta, é para usar nossas pessoas para que tenham um maior número de votos para a totalidade da legenda”, ela afirma. “Acaba sendo mais um lugar violento para nossa população”, diz .
da redação, com UOL