Dando continuidade à nossa série de entrevistas com pré-candidaturas do campo LGBTQ, às Câmaras Municipais, apresentamos mais um nome.
Priscilla Gomes é pessoense, nascida no bairro do Grotão e criada no Valentina, onde ainda hoje moram seus pais. Ingressou em 2008 no curso de Arquivologia da UFPB, embora seu desejo fosse cursar Engenharia Civil (inspiração que veio do trabalho do seu pai, que era pedreiro). Priscilla se apaixonou pelo curso e foi lá que iniciou sua militância no movimento estudantil, onde chegou à Presidência da Executiva Nacional dos Estudantes de Arquivologia. Se filiou ao PSB – Partido Socialista Brasileiro, e em 2011, foi diretora técnica da Casa do Estudante.
Em 2014, contribuiu na construção da Secretaria de Juventude, Esporte e Lazer, e foi nomeada pelo então governador Ricardo Coutinho, como secretária da pasta, que ocupou até 2019. Enquanto secretária, teve a oportunidade de integrar o Fórum Nacional de Gestores Estaduais de Juventude; do Conselho Nacional de Juventude; e de diversos conselhos correlatos: de cultura, direito LGBT e igualdade racial, numa vasta ação de trabalho pautado nas políticas públicas para essa população.
Por que você decidiu concorrer à uma vaga na Câmara Municipal?
Sempre tive a compreensão que a participação popular, através da política, é o melhor caminho na construção de uma sociedade mais justa e igualitária e no sentido de garantir que a os direitos sejam efetivados a partir desse olhar da população.
Depois da eleição de Bolsonaro, aumentou o discurso de ódio e violência. Vi que era importante que pessoas que militam no campo progressista, pudessem se colocar de forma mais efetiva nessa construção política. Avaliei, pensei, senti a energia de outras pessoas, e foi a partir daí que comecei a pensar na construção de uma candidatura para a Câmara Municipal de João Pessoa.
Parlamentares com perfil LGBT ainda são raras exceções. Como pretende lidar com a lesbofobia institucional, especialmente num cenário político cada vez mais conservador?
Na Câmara de João Pessoa, apenas 10 mulheres foram eleitas em toda a história, e nenhuma delas ligada diretamente aos direitos LGBT. Tivemos alguns destaques, como Renan Palmeira e Fernanda Benvenuti, que se candidataram e não conseguiram o espaço. É uma oportunidade que estamos construindo de viabilidade para ocupar esse espaço e que reafirme a condição LGBT. E a partir dos discursos e das vivências colocar e denunciar, formalmente, a lesbofobia e a homofobia institucional, e buscar meios para esse enfrentamento seja feito e que os seus efeitos sejam minimizados, não só na Câmara Municipal, mas também na sociedade.
Quais os maiores desafios que você enfrentou até decidir concorrer?
Eu acho que esse período de pandemia, um dos maiores desafios que todos estão enfrentando na construção de suas candidaturas, é a dificuldade de realizar diálogos presenciais, especialmente para quem está acostumado com esse contato mais direto, e isso acaba causando uma certa apatia.
Outro desafio que destaco, e também uma decepção, foi constatar a capacidade de algumas pessoas de dentro do próprio partido, em tentar desacreditar e descredibilizar minha condição enquanto pré-candidata. São pessoas que tentam abafar nossa voz e nossas representações dentro dos nossos espaços com posição hipócritas e falsos moralismos, e que colocam sua face machista em detrimento do seu posicionamento político. Apesar de ser uma situação triste, considero importante trazer essa discussão porque entendo que não podemos nos calar.
Quais são suas principais bandeiras de luta, e como pretende trazer essas pautas para o trabalho na Câmara Municipal?
Tenho uma atuação consolidada na pauta de juventude, e nela tive oportunidade de agregar outras pautas que se relacionam. Conseguimos fazer um trabalho bacana intersetorial, garantindo direitos e fazendo o enfrentamento. Na Câmara, a proposta é abranger esses setores: mulheres, direitos dos animais, sustentabilidade, educação, saúde, esporte e cultura, em resumo, pautas que dizem respeito à vida urbana. É uma identificação que tenho enquanto jornada, e enquanto pessoas que apoiam essa pré-candidatura.
Saiba mais sobre Priscilla Gomes em seu perfil @priscillagomesjp