Na última terça-feira (25), fomos surpreendidos com a demissão de Raisa Agra, vice presidente da FUNESC – Fundação Espaço Cultural. Ao contrário do que foi publicado no Diário Oficial, Raisa pediu a exoneração, e isso não consta no texto oficial, dando a entender que ela foi exonerada.
Raisa ainda publicou em suas redes sociais uma carta (que pode ser lida aqui na íntegra) em que afirma ter sofrido e testemunhado, em diversas ocasiões, arroubos autoritários na gestão.
Numa conversa com o Paraíba Feminina, Raisa nos afirmou que as atitudes machistas e autoritárias eram sistemáticas e planejadas. “Passei a não ser chamada para participar de reuniões importantes, inclusive com o governador, num contexto de agenda de crise com o setor cultural, mas ao mesmo tempo que estavam me colocando para participar das tarefas mais executivas ou mesmo para ser porta-voz em reuniões gerais, entrevistas…
Houve pedidos para que eu participasse, com o argumento de ter pelo menos uma mulher no contexto. Não levaram a sério”.
Raisa também lamenta que alguns setores da mídia deram a entender que ela foi exonerada por ter chamado o secretário de Cultura, Damião Ramos, de machista, e foi exatamente o contrário. Por não aceitar ser tratada com a seriedade inerente ao cargo, e principalmente, por ser colocada de lado em importantes momentos de decisão, quando sua presença se fazia necessária, Raisa se retirou, como prova e-mail enviado ao governador João Azevedo ainda na madrugada do dia 25 de agosto. O Diário Oficial foi publicado no dia seguinte, e pode ser conferido aqui.
Raisa Agra foi mais uma mulher a deixar a gestão estadual. Seja à pedido, ou exonerada diretamente, o fato é que o atual quadro de auxiliares diretos e indiretos excluiu de forma drástica a participação feminina. Especialmente no que diz respeito à área da cultura, pela primeira vez em 9 anos, não temos nenhuma mulher nos espaços de gestão cultural, seja na própria secretaria, ou na Fundação Espaço Cultural.
Não por acaso, o setor, que atravessa uma crise agravada pela pandemia do novo coronavírus, se vê às voltas com a falta de transparência das ações. Pela Lei Aldir Blanc, mais de 60 milhões em recursos serão enviados à Paraíba para o auxílio emergencial da cadeia produtiva cultural, mas a preço de hoje, não sabemos muitos detalhes.
Ainda na tarde da quinta-feira (27), deputados estaduais solicitaram mais uma vez a presença do secretário Damião Ramos Cavalcante para que tire essas e outras dúvidas.
O fato concreto e posto é que o governo estadual está diretamente alinhado com o governo federal, seja pela questão ideológica, seja pela forma como trata não só a cultura, mas qualquer pauta que envolva as populações mais vulneráveis.