As chocantes semelhanças entre os Trapalhões e a corrida eleitoral em João Pessoa

By 21 de setembro de 2020Paraiba

Se você foi uma criança dos anos 80, deve lembrar com saudosismo do final das noites de domingo. O programa “Os Trapalhões” eram aquele refresco maravilhoso antes dos seus pais começarem a assistir o Fantástico. Lembro especialmente das esquetes do Quartel, com o inesquecível Sargento Pincel, indiscutivelmente o melhor personagem presente.

Por força da profissão, participo de alguns grupos de Whatsapp, onde as discussões beiram o ridículo. Os apoiadores da extrema-direita, que antes me atacavam e me causavam mal estar, em tempos de pandemia… ops, em tempos de eleições, agora se atacam mutuamente, e isso está sendo a coisa mais divertida de acompanhar nos últimos dias.

O quadro eleitoral na corrida para a prefeitura de João Pessoa tem, até o momento, 14 nomes. Entre os representantes da esquerda progressista, dos mais moderados, dos que já foram prefeitos, e daqueles que apenas copiam um modelo de discurso que já caiu em completo e total desuso, sobram os extremos apoiadores do presidente Bolsonaro. Pode ser que eles, os próprios candidatos, ainda não tenham notado, mas o fato é que competem entre si pelo mesmo tipo de eleitor, e é justamente esses apoiadores que se dedicam diuturnamente a provocar os debates mais cômicos. Faltam propostas, respostas aceitáveis, projetos viáveis. Mas sobra agressão gratuita, memes e uma infinidade de kkkas e #CholaMais que não deixam a dever em nada as trapalhadas do Quartel do Sargento Pincel.

É fato público e notório que os militantes, sejam de qualquer partido ou linha ideológica, tenham embasamento e conhecimento sobre seu candidato ou candidata. São esses conhecimentos que dão substância na hora de entrar numa disputa de ideias, especialmente no mundo virtual. Até 2018, isso era visível. Independente de quem fosse representado, era no confronto das palavras que a coisa fluía, e aquilo era bonito de ver. As pessoas se colocavam no mesmo patamar de argumentação. Quando a coisa parecia perto de fugir do controle, aparecia alguém para acalmar os ânimos. Todos saíam vencedores, e o eleitor que apenas acompanhava e que não era envolvido diretamente com nenhum dos candidatos, tinha ali, de graça e ao vivo, todos os prós e contras possíveis, de ambos os lados.

Com o advento do bolsonarismo, as discussões desceram num nível considerado insalubre. São poucos os que continuaram no Facebook. São poucos os que continuaram a ter força e estômago suficientes para continuar num debate em que o argumento contrário se resumia a palavras soltas, sem contexto e sem qualquer tipo de racionalidade. É como se qualquer resquício de humanidade tivesse sido jogado no lixo, e ninguém é obrigado a ter sua inteligência, sua história e sua trajetória diminuídas por alguém que não sabe o significado de termos simples, como democracia e estado de direito. Foi duro.

Mas eis que em 2020, o refresco chegou. Pelo menos nesse sentido. Os apoiadores bolsonaristas não foram abastecidos com ideias, projetos e propostas porque elas simplesmente não existem (se existem, fica a dica de informar aos militantes) e eles se comportam entre os seus com a única coisa que sabem fazer: xingar, humilhar, vomitar preconceitos e apontar o dedo aos defeitos alheios que eles mesmos possuem. A tática de se atacarem em busca do eleitorado comum tem deixado os moderados de fora, e isso é bom.

Sim, está sendo divertido e o Sargento Pincel teria muito mais trabalho em tentar controlar essa trupe atrapalhada, mesmo que naquele tempo ter de lidar com o quarteto Didi, Dedé, Mussum e Zacarias acompanhado de Vera Verão e Tião Macalé também era certeza de boas risadas, mas pelo menos tinha um conteúdo cômico e de ironia de substância e inexistia qualquer viés político além de uma crítica ao regime militar e o alistamento obrigatório.

 

 

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