Casos de estupros caem 60% na Paraíba, mas números mostram o abismo entre a notificação e a realidade

By 19 de outubro de 2020Machismo mata, Paraiba

Imaginem a seguinte situação:

Uma mulher é vítima de estupro. Vamos nos ater ao fato que ela decide denunciar. Ela precisa ir numa delegacia, precisa contar a história sobre o fato, reviver a violência, contar a mesma história para3, 4 pessoas diferentes, geralmente homens. Depois ela precisa ir numa unidade de saúde tomar a profilaxia de urgência (contra IST’s e para evitar uma gravidez). Em seguida ela vai fazer um exame de corpo de delito, invasivo, desconfortável e doloroso.

Agora imaginem essa situação em tempos de pandemia, quando os serviços estavam funcionando de forma reduzida e quando o risco do coronavírus se mostrava mais presente.

Toda essa jornada, com o bônus de uma quarentena obrigatória, afetou drasticamente os registros de crimes de violência sexual, fazendo esses números caírem para 60% de notificações. De acordo com o Anuário de Segurança Pública, publicado na manhã desta segunda-feira (19) a Paraíba é o estado brasileiro com a menor taxa de estupro contra mulheres no ano de 2020.

É importante deixar claro que os serviços de apoio e denúncia continuaram ativos, mas o fato é que números tão baixos não são motivos para comemoração, pelo contrário. Antes da pandemia, apenas 35% dos casos de estupro no Brasil eram de fato, notificados.

Os dados da Paraíba acendem o alerta vermelho da subnotificação desses crimes e suas consequências, especialmente no que se refere ao perfil das vítimas: de acordo com dados do Anuário, mais de 70% das vítimas de estupro são crianças e adolescentes, sendo a faixa etária entre 10 e 13 anos, a mais atingida. Em tempos de isolamento social, essas crianças e adolescentes estão em casa, com seus agressores. Ainda há o agravante que as vítimas estão longe da escola, que se torna um dos grandes identificadores e denunciadores de violências e maus tratos.

Sozinhas com seus agressores em casa, e sem possibilidade ou meios de pedir ajuda, essas meninas estão sofrendo violência sem que a sociedade tenha conhecimento e sem que qualquer auxílio do pode público tenha meios de chegar até elas.

Por isso a denúncia é tão importante. Não se cale! Ligue 197 e 180.

 

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