Você leu aqui a primeira parte do depoimento de Júlia, ex fiel da Igreja Universal que nos relatou os abusos e a lavagem cerebral realizada nos fieis. Vivendo uma rotina de alienação, violência e julgamentos, Júlia conseguiu deixar a igreja, mas ainda guarda marcas dos anos que viveu.
Lavagem Cerebral, estupro e violência! Os relatos de uma jovem prisioneira de uma igreja na Paraíba
Na segunda parte do relato, ela nos conta o que acontece nos bastidores da Universal: muito sexo, muito luxo para poucos, e como o poder da igreja ajudou a eleger Jair Bolsonaro
Sexo no altar, abuso e falso moralismo:
Eu fui muito julgada e apedrejada por ter engravidado fora do casamento, mas isso só valia pra mim. Vi e ouvi muita coisa que aconteceu lá dentro: pastores que traíam suas esposas com obreiras, e que transavam na Sala de Atendimento ao Fiel (lugar usado como local de aconselhamento), transavam no altar da igreja…
Meu padrasto é o único da família que ainda frequenta a igreja e participa de diversos trabalhos. Mal sabe minha família que ele já me assediou quando jovem e eu escondi de todos na minha casa. Ele representa tudo que tem de mais podre dentro da Universal: é racista, homofóbico, machista, bolsominion, fiel dos “bons costumes e valores”, desses tira foto pra postar em rede social da família perfeita que Deus, através do testemunho na Igreja Universal, deu a ele. Sendo que dentro de casa é um inferno de macho escroto que nenhum filho suporta!
Dinheiro dos fiéis sustenta luxo
Os obreiros fazem todo o trabalho de graça. O pouco trabalho social que é feito, se resume a ‘evangelizar’ pessoas humildes que moram em locais distantes, e mesmo esse trabalho é feito do próprio bolso dos obreiros. Numa das vezes que acompanhei, as pessoas ofertaram moedas que não chegavam a 20 reais, e mesmo assim fomos acusados de roubo.
Os pastores e bispos vivem em apartamentos de luxo, andam em carros de luxo, usam relógios Rolex, e tudo isso vem das doações do fiéis, que acreditam realmente que estão dando aquele dinheiro para as obras da igreja. Os pastores e bispos também tem à disposição seguranças particulares pagos pela igreja, ou seja, pelos fieis. Esses seguranças são todos da empresa Centurião Segurança Patrimonial, que também faz parte dos negócios da Universal…
Num trecho anexado ao processo que foi prescrito, Edir Macedo conclama aos fiéis: “Eu vou entrar nessa fogueira santa. Você vai fazer o cheque aí agora. Ou vai pegar o que você tem aí agora. Seja um milhão, quinhentos mil, cem mil, cinquenta mil, 30, 20, 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1 até 430. Ou pegar todo o salário que você recebeu hoje, todo o salário. E vai subir nesse altar, vai passar por esse fogo. Que você quer ver a glória de Deus na sua vida. Vem aqui e pega teu envelope”.
Ainda em dezembro de 2020, a Operação Hades prendeu o ex prefeito do Rio de Janeiro, o bispo Marcelo Crivella, que pertence à alta cúpula da IURD e é sobrinho de Edir Macedo. A denúncia também revela ligações envolvendo a Igreja Universal do Reino de Deus e um suposto esquema bilionário de lavagem de dinheiro. O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) identificou uma circulação atípica de quase R$ 6 bilhões na instituição religiosa entre maio de 2018 e abril de 2019.
O mito do falso Messias
Foi essa igreja que ajudou Bolsonaro a se eleger. Eles comparam Bolsonaro à Jesus, trataram como se fosse um ungido, aquele que ia “contra tudo e contra todos”, e dentro de um lugar com tanta alienação, foi fácil convencer as pessoas disso. Além do mais, o projeto da Igreja Universal é político, e esse presidente representa pra eles a vitória da própria igreja.
Ainda nas eleições de 2018, a TV Record, que pertence ao grupo da IURD, favoreceu de forma ilegal e vergonhosa a campanha de Jair Bolsonaro. Numa matéria publicada pelo portal Jornalistas Livres, é contado os bastidores da entrevista de Bolsonaro à TV, no mesmo dia e horário em que ele deveria participar do debate presidencial.
Entre os estimados 7 milhões de fiéis e pastores da Igreja Universal, fundada por Macedo no Rio de Janeiro em 1977 e hoje espalhada por mais de 7 mil pontos do país, há inúmeros vereadores e deputados estaduais eleitos com a força da máquina do bispo.
E agora, diante do processo da eleição da presidência do Congresso Nacional, Bolsonaro tentou emplacar o deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP), bispo licenciado da IURD, mas acabou não dando certo. Hoje o apoio do presidente se concentra em Arthur Lira (Progressistas-AL) e, dizem os especialistas, pode ter causado o fim da lua de mel entre Bolsonaro e a Universal.
Júlia* é um nome fictício. Apesar de ter saído da Universal há bastante tempo, ela teme retaliações violentas.