Algumas histórias são tão absurdas que temos até dificuldade de saber por onde começar.
Guilherme Alves Costa, de 18 anos, foi preso em flagrante após assassinar a facadas uma jovem de 19 anos. O crime ocorreu nessa segunda-feira (22/2), por volta das 14h30, em Pirituba, zona oeste de São Paulo.
De acordo com o boletim de ocorrência, Guilherme Alves Costa estava em casa quando esfaqueou Ingrid Oliveira Bueno da Silva diversas vezes e depois fugiu. O irmão de Costa, que afirmou não conhecer a mulher, chegou ao local do crime e a viu desmaiada e ensanguentada. A Polícia Militar atendeu a ocorrência.
Ingrid era conhecida como Sol e integrava a equipe FBI E-Sports de Call of Duty (Cod), um jogo eletrônico de guerra. O autor do crime disse que conheceu a vítima na internet há pouco mais de um mês. Ao que tudo indica, ele fazia parte de um time adversário, o Gamers Elite.
Após esfaquear a jovem, Guilherme Alves Costa gravou um vídeo em que ri da situação e confirma ter cometido o crime. “Vocês estão achando que é tinta, montagem ou algo do tipo, mas não é. Eu realmente matei ela, entendeu? […] Olha só, que maravilha”, disse, aos risos, ao se referir ao corpo aparentemente sem vida. A redação do Paraíba Feminina teve acesso às imagens, mas não iremos publicá-las.
O assassino disse à PM ter planejado o homicídio e afirmou ter escrito um livro em que explicava suas motivações. Ele faz uso de discurso de ódio contra o cristianismo, por exemplo. Os agentes coletaram uma cópia do suposto material para análise.
Então temos uma primeira situação de um jovem que assassinou uma moça, e que “escreveu um livro para explicar suas motivações”. Aparentemente, um jovem doente, um assassino solitário, que baseou suas motivações em algo que talvez nem ele saiba. Já seria assustador que fosse apenas isso. Mas não é.
Lola Aranovich, que escreve o blog feminista Escreva Lola, Escreva!, é uma conhecida ativista pelos direitos das mulheres e é recordista em receber ameaças de morte por seu posicionamento. No final da noite da segunda-feira (22), Lola recebeu um email em que o autor se apresenta como Guilherme, o assassino. Em anexo, 3 vídeos e o suposto “Livro” ao qual Guilherme se refere. Leia nesse link.
A fala de Guilherme não faz o menor sentido, mas ele cita, por duas vezes, o Crazychan, e se você não sabe o que é isso, vou contar. O Crazychan é um fórum de discussões na internet que abriga o que há de pior na espécie humana, são na maioria, homens jovens extremamente racistas (mesmo com membros negros), misóginos, homofóbicos e extremamente violentos. Para esses homens, conhecidos como mascus, nenhuma mulher presta, nem mesmo a mãe deles, e elas merecem morrer, de preferência, de forma violenta. Eles são incentivados, uns pelos outros, a cometer crimes. Lembram do massacre na escola do Realengo? E o massacre na escola de Suzano, lembram? As investigações conduzidas pela polícia apontam que os criminosos faziam parte de grupos assim, e eles são considerados heróis. Agora Guilherme virou um herói também.
A conclusão chegamos é que estamos inseridos num contexto de doença, pobreza e sem perspectivas de melhora próxima. Sim, a violência contra mulheres, negros e gays sempre existiu, mas tudo piorou muito. As altas esferas de poder embasam esse discurso, e quando somos “governados” por pessoas que disseminam o ódio, obviamente esses grupos criminosos ganham fôlego.