Dia internacional da Mulher: não é sobre flores ou chocolates

By 8 de março de 2021Lute como uma garota

8 de Março não é sobre flores e chocolates

Ao escrever esta frase nas redes sociais, alguns questionamentos (de homens, claro) apareceram: “mas eu amo e respeito as mulheres e não posso dar flores?”; “eu darei flores sim, porque minha mulher é feminina, não feminista”; “agora os homens de verdade não podem ser gentis?”. Passei dois dias degustando cada palavra dessa a mim dirigida no dia que postei a bendita frase.

Para entendermos o contexto, a frase foi colocada logo após os dados sobre estupro no Brasil, onde todos os dias temos mais de uma centena de notificações e, na maioria das vezes, estupros de crianças. Mas os homens se incomodaram mesmo foi com o fato de não “poder” dar flores e chocolates à suas mulheres.

Essa compreensão rasa da minha postagem só mostra o óbvio: os homens têm muita dificuldade de aceitar as críticas e os posicionamentos das mulheres e tentam, a todo custo, abafar as questões apresentadas, mesmo que inconscientemente. Eles precisam, o tempo todo, afirmar que “nem todo homem” (aquela revirada nos olhos) estupra, violenta, exclui, diminui. Mas ignoram que o contexto social geral não é este. Ignoram, ou tentam diminuir o fato de que sim, o machismo arraigado nos maltrata, nos diminui, nos exclui, nos violenta e nos mata TODOS OS DIAS. Não são coisas pontuais, são coisas estruturais que nos perseguem há séculos.

Flores, chocolates, atos de gentileza de um modo geral serão sempre bem vindos. O questionamento nunca foi esse. O ponto x (se disser ponto G muitos nem vão entender mesmo) é uma ação gentil numa data simbólica quando, nos demais dias do ano somos obrigadas a conviver com piadas misóginas, Mansplaining (homem explicando o conteúdo que uma mulher domina), não divisão das obrigações domésticas, salários desiguais, piadinhas escrotas nas ruas, importunação sexual, assédio sexual e moral, estupro, violência doméstica (psicológica, física e sexual) e a morte, às vezes pelo simples fato de dizer “não” a um homem.

Espero que vocês entendam, sintam que o 8 de Março – que nasceu de uma grande violência contra mulheres, mortas dentro de um galpão de fábrica – ainda se faz necessário para a grande reflexão social e mudança estrutural. Flores? Chocolates? Quero sim, obrigada. Mas quero que todos entendam, de uma vez por todas, que o Dia Internacional da Mulher não é sobre gentileza, mas sobre luta e sobrevivência. De todos.

 

Márcia Marques, jornalista e colunista

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